Cientistas do Laboratório Cold Spring Harbor (CSHL) resolveram o mistério de como o cancro do pâncreas se espalha após os pacientes serem sujeitos a cirurgia de remoção do tumor, com sucesso.
Após a cirurgia, os pacientes experimentam um período típico de duas semanas durante o qual o sistema imunitário enfraquece em virtude de um aumento dos níveis de hormônio do stress pós-operatório (cortisol).
Assim, com as células T enfraquecidas, as células de cancro isoladas e adormecidas, que já tinham viajado para o fígado, e possivelmente para outros órgãos, através da corrente sanguínea, começam a crescer ou a metastatizar.
Douglas Fearon, professor do CSHL, referiu que o período pós-operatório “oferece uma janela durante a qual podem ser feitos esforços para manter baixos os níveis de cortisol e manter as células T para que o sistema imunitário do paciente possa matar as células cancerígenas que chegaram a outras partes do corpo, mas que até ao momento estavam adormecidas”.
A cirurgia geralmente não é uma opção para pacientes com cancro do pâncreas, uma vez que a maioria é diagnosticada após a metástase do tumor primário. Isto ajuda a explicar o porquê de apenas 8% dos pacientes conseguirem sobreviver até 5 anos após a remoção do tumor.
Mas, no caso de um sucesso do recurso à cirurgia, os médicos têm ficado intrigados com o fraco resultado do combate à doença mesmo numa minoria cujo tumor parece confinado ao pâncreas no momento do diagnóstico e, assim, a cirurgia aparecer como a opção certa.
Em muitos desses pacientes, o fígado é inspecionado durante a operação, e o mesmo parece livre de cancro. No entanto, dentro dos dois anos seguintes, a maioria desses pacientes desenvolve cancro metastático letal, geralmente no fígado.
Uma equipa liderada por Douglas Fearon e Arnaud Pommier explica, em estudo publicado na revista Science que as células cancerosas inativas já estão no fígado antes do tumor primário ser removido nos pacientes.
Estas células cancerosas chegaram ao fígado levadas pela corrente sanguínea depois de serem libertadas pelo tumor primário. Douglas Fearon estima que, num paciente típico, 14 milhões de células cancerosas passem pelo fígado todos os dias.
O sistema imunitário pode matar a maioria das células cancerígenas depositadas no fígado, mas muitas vezes não é completamente eficaz. A equipa de cientistas descobriu nos últimos anos como o sistema imunitário pode ser enganado ou sequestrado por células cancerígenas.
O sistema imunológico procura e destrói as células cancerígenas detetando proteínas chamadas MHC1 e CK19 que estão presentes nas membranas externas das células cancerígenas. Os cientistas descobriram que as células cancerígenas que estão adormecidas no fígado de pacientes com cancro do pâncreas não expressam essas proteínas, e por isso as células T ‘assassinas’ não conseguem encontrá-las.
Em determinadas situações, como é o caso do stress cirúrgico pós-operatório, em que as células T no fígado são esgotadas, as células cancerosas adormecidas começam a expressar marcadores MHC1 e CK19 novamente e começam a dividir-se, tornando-se sementes de lesões metastáticas.