Uma equipa internacional de investigadores, liderada por Mónica Bettencourt Dias, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), descobriu características importantes das células cancerígenas que podem ajudar os médicos na luta contra o cancro.
No estudo publicado, hoje, 28 de março, na revista ‘Nature Communications’, os investigadores indicam que observaram que na maioria dos subtipos agressivos de cancro há um aumento no número e tamanho de estruturas minúsculas que existem dentro de cada uma das células humanas, chamadas centríolos.
As conclusões do estudo leva os investigadores a considerar que o mesmo pode contribuir para “novas ferramentas que possam ajudar a determinar o prognóstico e a desenhar tratamentos individualizados com base nas características intrínsecas de cada tumor”, dado que “o cancro é uma doença muito diversa, sendo alguns tumores mais agressivos e resistentes a tratamentos do que outros.”
Os centríolos têm sido considerados o “cérebro” da célula, uma vez que desempenham papéis cruciais na multiplicação, movimento e comunicação entre células, indica nota do IGC, e que essas estruturas são cerca de 100 vezes mais pequenos do que um fio de cabelo.
Os processos em que estão envolvidos os centríolos são normalmente alterados no cancro e que permitem a sobrevivência e multiplicação das células cancerosas. O número e tamanho dos centríolos são altamente controlados nas células normais.
Os cientistas têm vindo a considerar, desde a descoberta, há mais de um século, dos centríolos, que o aumento anormal no número destas estruturas pode induzir cancro. Nesta linha, a equipa de Mónica Bettencourt Dias, investigou a incidência de anormalidades nos centríolos em células cancerígenas humanas.
Os investigadores ao analisarem minuciosamente um painel de 60 linhas de cancro humano oriundas de 9 tecidos diferentes, verificaram “que as células cancerígenas frequentemente têm centríolos mais longos e em maior número, algo que não existe nas células normais”, e que “o excesso de centríolos é mais prevalente em formas agressivas do cancro da mama, como o triplo negativo, e do cólon”, e ainda que “os centríolos mais longos são excessivamente ativos, o que perturba a divisão das células e pode levar à formação de cancro.”
Gaëlle Marteil, investigadora e primeira autora do estudo, referiu: “Os nossos resultados confirmam que uma desregulação no número e tamanho dos centríolos dentro das células está associada a características malignas. Esta descoberta pode ajudar a estabelecer as propriedades dos centríolos como uma forma de classificar tumores de modo a determinar prognósticos e prever o tratamento adequado.”
O próximo passo da investigação, referiu Mónica Bettencourt Dias, é “conduzir estudos para explorar novos mecanismos e terapêuticas que possam atuar sobre os centríolos no cancro, em colaboração com a equipa de Nuno Barbosa-Morais no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, e com a equipa de Joana Paredes no I3S, no Porto,” dado que as linhas celulares analisadas “já estão muito bem caraterizadas em termos de alterações genéticas e resistências a terapêuticas.”
O estudo envolveu uma equipa de investigação internacional do Instituto Gulbenkian de Ciência em colaboração com investigadores do I3S- Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, IPATIMUP – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular, Instituto de Medicina Molecular, Instituto Português de Oncologia, e Dana-Faber Cancer Institute, nos EUA.
Um trabalho que foi financiado pelo Concelho Europeu de Investigação, pela Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO, na sigla em inglês), pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), e pelo programa FCT– Harvard Medical School Portugal.