O cancro de ovário é o quinto tipo de cancro mais comum em mulheres e a quarta causa mais comum de morte por cancro em mulheres. “O risco estimado ao longo da vida para uma mulher desenvolver cancro de ovário é de cerca de 1 em 54. Todos os anos, em Portugal, são diagnosticados cerca de 600 novos casos”, alerta a Cristiana Pereira Marques, médica especialista em Oncologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.
O cancro do ovário é diagnosticado geralmente após os 50 anos. Quando se assinala o Dia Mundial do Cancro do Ovário, a 8 de maio, a Associação de Investigação e Cuidados de Suporte em Oncologia traz-nos o testemunho, na primeira pessoa, de Ana Cristina Melo, que mostra que há exceções, como foi o seu caso.
Ana Cristina Melo tinha apenas 31 anos quando lhe foi diagnosticado cancro do ovário. Submetida a cirurgia e quimioterapia, um novo tumor/recorrência foi detetado cerca de um ano depois, obrigando a mais quimioterapia e radioterapia. Por ter história familiar de cancro e pela idade jovem ao diagnóstico, foi efetuado um estudo genético que confirmou predisposição familiar para cancro hereditário, a Síndrome de Lynch.
Mas Ana Melo está agora em vigilância e sem evidência de doença. A recorrência do tumor, em vez de a desanimar, parece a ter deixado com mais forças para enfrentar a doença. “Estava farta desta doença que não me queria largar. Fazia-me lembrar uma pastilha na sola do sapato. Mas só me deu mais força. Já tinha a experiência anterior e pensei para mim mesma: não és tu que vais vencer, não és tu que ditas as regras da minha vida”, lembra Ana Cristina Melo.
Uma força que lhe deu mais esperança e ânimo para encarar mais uma batalha, e refere: “Não vou ficar agarrada ao medo dessa probabilidade. Tenho de acreditar que vou sempre conseguir, que vou ter um desfecho positivo e acreditar na equipa médica que está ao meu lado”. Apesar disso, confessa que nem sempre teve um espírito elevado. O confronto com o diagnóstico foi difícil, sobretudo porque tinha muitos projetos e sonhos em mente, incluindo o da maternidade. “É uma notícia que ninguém quer receber. Temos toda uma série de projetos que, de repente, começam a ruir. Quando ouvimos a palavra cancro abre-se um fosso e toda a nossa perspetiva de futuro muda completamente”.
Ultrapassado o embate inicial, conta que aprendeu a dar “um passinho de cada vez” e a gerir toda a frustração, tristeza e angústia para encontrar forças para lutar contra uma doença que lhe queria roubar a vida. Aprendeu que os projetos podem não ser sonhos para sempre desfeitos, mas adaptados à nova condição. Aprendeu também a separar o importante do acessório e a preocupar-se mais consigo mesma, com o tempo em família e com os amigos.
Por isso, deixa uma mensagem a todas as mulheres, jovens ou menos jovens, porque há casos que escapam à norma: “se o corpo estiver a dar sinais de que algo está errado peçam ajuda, tentem informar-se, peçam exames.
Ana Cristina Melo lembra que “o cancro é uma doença que não espera, é evolutivo, e que quanto mais cedo for diagnosticado melhor será o prognóstico”. E, por isso, apela: “não fiquem com medo; ficar com medo é deixar o tempo passar e permitir que a doença nos vença”.
Fatores de risco estão identificados
A médica especialista Cristiana Pereira Marques esclarece que a causa exata do cancro de ovário permanece desconhecida, mas muitos fatores de risco estão identificados, entre os quais a obesidade, menarca precoce, menopausa tardia, baixo número de gestações e a história familiar. Cerca de 10 a 20% dos cancros do ovário associam-se a uma síndrome de predisposição familiar para o cancro, como é o caso da Ana Cristina Melo.
Mas foram identificados outros fatores protetores de cancro do ovário, como o uso de anticoncecional oral, laqueação de trompas de Falópio e a amamentação. “O cancro do ovário constitui um desafio diagnóstico, pois não existe um método de rastreio validado na população e os sintomas são frequentemente tardios. Nos últimos anos, surgiu uma nova classe de fármacos, que revolucionou o tratamento do cancro do ovário”, refere a médica oncologista.
Estar com atenção aos sinais
O cancro do ovário, que atinge sobretudo mulheres após os 50 anos, é um tipo de neoplasia que tem origem nos tecidos ováricos, onde são formados os óvulos e produzidas as hormonas femininas. Os sintomas são, geralmente, inespecíficos e tardios, daí a importância de serem mantidas rotinas médicas. No entanto, existem sinais/sintomas que devem motivar avaliação médica como:
■ distensão abdominal persistente;
■ enfartamento precoce;
■ perda de apetite;
■ dor abdominal;
■ sintomas urinários (frequência ou urgência urinária);
■ alteração do trânsito intestinal (diarreia ou obstipação);
■ fadiga extrema ou perda de peso.