Uma única dose alta de radiação administrada em poucos minutos diretamente no tumor é uma técnica segura e eficaz no tratamento do cancro da próstata de baixo risco, indica estudo apresentado na conferência ESTRO 38 – European SocieTy for Radiotherapy & Oncology.
A radioterapia tradicional envolve uma série de tratamentos com doses baixas de radiação durante vários dias ou semanas. O novo tratamento designado por braquiterapia de alta taxa de dose que fornece radiação através de um conjunto de pequenos tubos.
Os investigadores indicam que a técnica pode oferecer um tratamento eficaz, o que é bom para os pacientes e além disso tem uma vantagem potencial para a economia, nomeadamente na redução dos custos hospitalares.
A investigação foi apresentada na ESTRO por Hannah Tharmalingam, do Centro de Cancro de Mount Vernon, em Northwood, e do The Christie NHS Foundation Trust, em Manchester, Reino Unido.
braquiterapia de alta taxa de dose é um tratamento eficaz para o cancro da próstata
A investigadora referiu: “A braquiterapia, em que usamos cateteres temporários para tratar diretamente os tumores, já provou ser um bom tratamento para o cancro da próstata, ao matar as células do cancro como ao minimizar os efeitos colaterais”.
“Os pacientes fazem quatro a seis visitas ao hospital para uma série de tratamentos com doses mais baixas”, mas “queríamos ver se conseguiríamos resultados semelhantes, mas com apenas um tratamento com altas doses, economizando tempo ao paciente e ao hospital”, indicou Hannah Tharmalingam.
Estudo mostrou a eficácia da braquiterapia de alta taxa de dose
No estudo de investigação participaram 441 homens com cancro da próstata, que foram tratados num dos sete hospitais do Reino Unido, entre 2013 e 2018. Os cancros foram classificados, dependendo da probabilidade de disseminação, como de baixo risco, em 44 homens, de risco médio em 285 homens ou alto risco em 112 homens. Todos os 441 pacientes foram tratados com uma dose única alta (19 Gy) de radiação; 166 homens também receberam terapia hormonal, mas nenhum realizou cirurgia ou quimioterapia.
Os investigadores monitoraram o progresso do tratamento durante um período médio de 26 meses, tendo passado dois anos do tratamento à medição dos níveis de antígeno específico da próstata (PSA) no sangue e novamente passados três anos após o tratamento. O PSA é considerado um bom indicador do nível de sucesso do tratamento do cancro da próstata. Se os níveis PSA aumentarem, isso pode indicar que o cancro regressou.
Após dois anos do início do tratamento, 94% dos homens não mostraram sinais de reaparecimento do cancro através dos níveis de PSA. Para os homens com cancro de baixo risco este valor foi de 100%, em homens com risco médio foi de 95% e em homens com cancro de alto risco foi de 92%. Após três anos, o número total foi de 88%, e em homens com cancro de baixo, médio e alto risco, os números foram de 100%, 86% e 75%, respetivamente.
Dos 27 homens com níveis elevados de PSA, os investigadores identificaram que o cancro reapareceu em 25. Em 15, o cancro da próstata tinha regressado, e nos restantes o cancro tinha-se espalhado pelo corpo.
No momento do tratamento, não se verificaram efeitos colaterais graves. Mais tarde, dois homens desenvolveram estenoses uretrais que necessitaram de cirurgia e dois desenvolveram fístulas retais que necessitaram de colostomia.
Terapia apresenta vários benefícios
Hannah Tharmalingam referiu: “Estes resultados indicam que a braquiterapia de alta taxa de dose é um tratamento seguro e eficaz para homens com cancro da próstata de baixo risco, mas são necessárias mais investigações em pacientes de médio e alto risco para ver se os resultados podem ser melhorados. Este tipo de tratamento oferece uma alternativa atraente à cirurgia ou a outras formas de radioterapia, pois tem um risco comparativamente baixo de efeitos colaterais. É também uma opção amiga do paciente, porque o tratamento pode ser administrado rapidamente numa única consulta hospitalar”.
Os investigadores envolvidos no estudo pretendem continuar a estudar o impacto do uso deste tipo de radioterapia, especialmente em pacientes com cancro da próstata de maior risco e mais propensos a sofrer uma recorrência. Hannah Tharmalingam acredita que pode ser possível, devido ao baixo risco de efeitos colaterais, modificar o tratamento ou aumentar a dose ainda mais em casos de maior risco.
“Esta investigação sugere que um único tratamento de braquiterapia de alta taxa de dose pode ser uma muito boa opção para muitos homens com cancro da próstata. A tecnologia e a especialização necessárias para fornecer este tratamento ainda não estão disponíveis em todos os Centros de Cancro. No entanto, dado que pode oferecer economia de tempo e dinheiro aos hospitais, bem como benefícios para os pacientes, aparece como um bom argumento para investir nesse tipo de radioterapia”, comentou Bradley Pieters, presidente do comité de braquiterapia da ESTRO.