Com o consumo regular de doses moderadas de cafeína há uma diminuição da memória do medo, indica estudo científico desenvolvido por investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT). O estudo vai ser publicado na revista científica Neuropsychopharmacology.
O medo está associado a fobias, stress pós-traumático e depressão e daí que os cientistas consideram importante encontrar soluções para manipular o medo enquanto reação emocional.
Nos Estados Unidos da América (EUA), o medo surge como uma prioridade devido à incidência de stress pós-traumático, e na Europa, os recentes casos de terrorismo, têm levado os especialistas a considerar um aumento do stress, sobretudo por parte das pessoas que experienciaram os acontecimentos.
Uma das bases do medo é a memória aversiva continuada. Assim, os investigadores centraram a investigação na região da amígdala do cérebro, onde as memórias do medo são codificadas, e verificaram que a persistência da memória aversiva depende de uma anomalia na sinalização mediada pelos recetores que estão envolvidos na comunicação do sistema nervoso central, os recetores A2A.
A partir do conhecimento da atuação dos recetores A2A, os investigadores do CNC e do MIT procederam a experiências em ratinhos de laboratório “expondo-os a situações negativas em contexto sensorial e espacial”.
Numa segunda fase de testes, os ratinhos foram separados em dois grupos e “submetidos novamente aos eventos causadores de aversão”. Um dos grupos recebeu diariamente um análogo de cafeína para bloquear os recetores A2A. Os investigadores observaram que, neste grupo, houve uma “diminuição progressiva da retenção da memória aversiva”, esclareceu o investigador Rodrigo Cunha, citado pela UC.
O investigador resume os resultados dos testes referindo que “quando colocados no contexto causador do medo, os animais ajustaram o seu comportamento, ou seja, adquiriram uma adaptação positiva”.
Como base nos resultados alcançados, Rodrigo Cunha considera que a investigação desenvolvida pode ter um impacto clínico relevante no futuro, ou seja, “a partir daqui é possível desenhar e desenvolver fármacos para controlar fobias e traumas, evitando a evolução para a depressão. A doença com maior incidência no mundo ocidental”. Mas o investigador acrescentou que vão ser necessários mais estudos, nomeadamente em humanos.
Esta investigação que envolve a Universidade de Coimbra e o MIT tem vindo a ser financiada pelo Departamento de Defesa dos EUA.