Diversos estudos têm mostrado que comer alimentos ricos em flavonóides pode beneficiar a função vascular. Agora um novo estudo mostra, pela primeira vez, que o consumo de flavonóides de cacau tem um efeito positivo na função vascular cerebral e no desempenho cognitivo em jovens adultos saudáveis.
“Os flavanóis são pequenas moléculas encontradas em muitas frutas e vegetais, e também no cacau”. E acrescentou: “Eles dão às frutas e aos vegetais as cores brilhantes e são conhecidos por beneficiarem a função vascular”, esclareceu Catarina Rendeiro, investigadora na Universidade de Birmingham, Reino Unido.
Para Catarina Rendeiro a questão que se colocava era “saber se os flavonóides também beneficiam a vasculatura cerebral e se isso podia ter um impacto positivo na função cognitiva.”
A equipa de investigadores liderados por Catarina Rendeiro com Monica Fabiani e Gabriele Gratton da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign envolveu no estudo 18 adultos não fumadores sem doenças cerebrais, cardíacas, vasculares ou respiratórias conhecidas, e consideraram que quaisquer efeitos observados nesta população forneceriam evidências robustas de que os flavonóides dietéticos podem melhorar a função cerebral em pessoas saudáveis.
O estudo e os resultados
Os investigadores testaram os participantes antes da ingestão de flavonóides de cacau e em dois momentos durante o consumo de flavonoides. Um dos testes quando as pessoas receberam cacau rico em flavanol e o outro durante o consumo de cacau processado com níveis muito baixos de flavonóides. Nem os participantes nem os investigadores sabiam os momentos em que consumiam um dos tipos de cacau. Assim, o estudo duplo-cego permitiu evitar que as expectativas dos investigadores ou dos participantes pudessem afetar os resultados.
Cerca de duas horas depois de consumirem o cacau, os participantes respiraram ar com 5% de dióxido de carbono – cerca de 100 vezes a concentração normal no ar. Este é um método padrão para desafiar a vasculatura cerebral para determinar a qualidade de resposta da mesma, explicou o investigador Gabriele Gratton, dado que “o corpo normalmente reage aumentando o fluxo sanguíneo para o cérebro”.
O aumento do fluxo sanguíneo leva a mais oxigénio e assim “permite que o cérebro elimine mais dióxido de carbono” esclareceu o investigador.
Com recurso a espectroscopia de infravermelho próximo funcional, uma técnica que usa luz para capturar mudanças no fluxo sanguíneo para o cérebro, a equipa de investigação mediu a oxigenação no córtex frontal, uma região do cérebro que desempenha um papel fundamental no planeamento, regulação do comportamento e tomada de decisões. Uma técnica que “permite medir a qualidade de como o cérebro se defende do excesso de dióxido de carbono”, referiu Monica Fabiani.
Durante o estudo os investigadores também desafiaram os participantes com tarefas complexas que exigiam que administrassem pedidos às vezes contraditórios ou concorrentes.
Os investigadores verificaram que a maioria dos participantes teve uma resposta de oxigenação cerebral mais forte e mais rápida após a exposição aos flavonóides do cacau do que no início do estudo ou depois de consumir cacau sem flavonoides.
Catarina Rendeiro referiu: “Os níveis de oxigenação máxima foram mais de três vezes maiores no cacau com alto teor de flavanol em relação ao cacau com baixo teor de flavanol, e a resposta de oxigenação foi cerca de um minuto mais rápida”.
Depois de ingerirem os flavonóides de cacau, os participantes também tiveram um desempenho melhor nos testes cognitivos mais desafiadores, resolvendo corretamente problemas 11% mais rápido do que no início do estudo ou quando consumiram cacau com reduzidos flavonóides. No entanto, não houve diferença mensurável no desempenho nas tarefas mais fáceis.
Para a investigadora Catarina Rendeiro “isto sugere que os flavonóides podem ser benéficos apenas durante as tarefas cognitivas mais desafiadoras”.
Os benefícios dos flavonóides do cacau variam por consumidor
“Embora a maioria das pessoas tenha beneficiado com a ingestão de flavanol, um pequeno grupo não beneficiou”, referiu Catarina Rendeiro. Quatro dos 18 participantes do estudo não manifestaram diferenças significativas na resposta de oxigenação do cérebro após o consumo de flavonóides, nem o desempenho nos testes melhorou.
“Como os quatro participantes já tinham as respostas de oxigenação mais altas no início do estudo, isso pode indicar que já estão em boa forma e possuem pouco espaço para melhorias”, apontou a investigadora. “No geral, as descobertas sugerem que as melhorias na atividade vascular após a exposição aos flavonóides estão ligadas à melhora na função cognitiva.”