O primeiro estudo que comparou o consumo de álcool durante a gravidez, em 11 países europeus, envolveu a participação de 7905 mulheres, em que 53% das mulheres estavas grávidas e 46% eram recentes mães, com uma criança até um ano de idade.
O estudo foi desenvolvido pelo Instituto Norueguês de Saúde Pública e pela Escola de Farmácia da Universidade de Oslo, na Noruega, em colaboração com a Universidade de Gotemburgo e o Hospital Universitário Sahlgrenska, na Suécia.
Os investigadores utilizaram o mesmo método para recolha de dados na Croácia, Finlândia, França, Itália, Noruega, Polônia, Rússia, Sérvia, Suécia, Suíça e Reino Unido. As mulheres preencheram um questionário online anónimo, disponibilizado em sites Web para mulheres grávidas em cada um dos 11 países. O estudo concluiu que, em média, 16% das mulheres dos 11 países europeus consumiam álcool depois de saberem que estavam grávidas.
■ Os países com maior percentagem de mulheres a relatar que consumia de álcool durante a gravidez foram o Reino Unido com 28,5%, a Rússia com 26,5% e a Suíça com 20,9%.
■ Os países com menor percentagem de mulheres a relatar consumo de álcool foram a Noruega com 4,1%, a Suécia com 7,2% e a Polónia com 9,7%.
■ As mulheres que mais relataram consumo de álcool durante a gravidez eram mais velhas, com maior nível de instrução, empregadas, e fumavam antes da gravidez.
Em face dos resultados do estudo, os investigadores questionaram-se sobre a diferença de percentagem entre o consumo das mulheres grávidas na Noruega, em comparação com as do Reino Unido.
Embora a população britânica, em geral, beba mais do que os noruegueses, o estudo mostrou que países com uma cultura de consumo comparável ao Reino Unido, como a Polónia e a França, tiveram percentagens relativamente baixas de mulheres a beber durante a gravidez. Concluindo os investigadores que uma cultura com grande taxa de consumo de álcool da população não induz a um consumo pelas mulheres durante a gravidez.
Hedvig Nordeng do Instituto Norueguês de Saúde Pública, investigador principal do estudo na Noruega, referiu que as “diferenças no comportamento de consumo de álcool das mulheres grávidas entre os países podem ter muitas explicações, para além de variações na disposição das mulheres para fornecer informações sobre seu consumo de álcool durante a gravidez.”
“Pode ter havido diferenças nas diretrizes nacionais ou campanhas educacionais sobre a bebida durante a gravidez, diferenças no cuidado pré-natal e atitudes em relação ao uso de álcool durante a gravidez, ou uma combinação de todos esses fatores”, esclareceu o investigador.
Quem consome mais álcool?
Das mulheres que indicaram consumir álcool durante a gravidez, 39% assumiram consumir pelo menos uma unidade de álcool por mês. As mulheres que consomem com mais frequência, ou seja, mais de uma a duas unidades por semana, foram registadas em Itália com 7,8% e no Reino Unido com 2,8%.
Com um consumo menor de 1 a 2 unidades durante toda a gravidez aparece a Noruega e a Suécia com mais de 80% das mulheres, e entre 70% e 80% surge a França, Polónia, Finlândia e Rússia.
Portanto, apesar de uma grande percentagem de mulheres russas continuar a beber durante a gravidez, em comparação com os outros países. As mulheres gravidas em Itália bebem muito mais do que as mulheres noutros países. Também isto pode ser devido a uma combinação de fatores, indicam os investigadores.
Angela Lupattelli, da Universidade de Oslo, coordenadora do estudo na Noruega e em Itália, explicou que é possível “especular que fatores sociais e culturais desempenham um papel” nas atitudes das mulheres grávidas. Por um lado, “as diretrizes e políticas nacionais relacionadas ao álcool podem influenciar o comportamento de consumo de álcool das mulheres durante a gravidez “.
Mulheres com hábitos tabágicos e com educação superior bebem mais
A associação entre o tabagismo antes da gravidez e o consumo de álcool durante a gravidez tem sido observada em anteriores estudos. Uma explicação plausível para esta associação é o comportamento subjacente ao risco para a saúde entre essas mulheres.
Parece um paradoxo que, as mulheres mais velhas e com educação superior sejam mais propensas a consumir álcool durante a gravidez, o que vem confirmar anterior investigação sobre o tema.
O estudo não analisou a relação entre o nível de educação e a quantidade ou frequência de consumo de álcool durante a gravidez. Mas os investigadores especulam que as mulheres mais velhas e com educação superior podem ser mais críticas em relação às diretrizes que recomendam abstinência completa do álcool durante a gravidez.
Os investigadores também se questionam se as mulheres mais velhas estão menos expostas que as mulheres mais jovens às campanhas de saúde que alertam contra o uso de álcool durante a gravidez, especialmente se consumiram também algum álcool durante gestações anteriores, e se tiveram filhos saudáveis.
Os autores do estudo consideram ser importante que as campanhas nacionais sejam direcionadas para todas as mulheres em idade fértil:
“Não existe definida uma quantidade mínima segura de álcool que possa ser consumida durante a gravidez. Portanto, recomendamos que todas as mulheres grávidas devem aderir às orientações para a abstinência total de álcool durante a gravidez“, referiu Hedvig Nordeng.