A disseminação da COVID-19 no Brasil sobrecarregou os sistemas de saúde de todas as regiões do país, principalmente as áreas que apresentavam maior fragilidade, refere estudo publicado na revista The Lancet Respiratory Medicine. O estudo revela que uma grande percentagem dos pacientes com COVID-19 que foram hospitalizados no Brasil necessitaram de cuidados intensivos e suporte respiratório, e que muitos não sobreviveram.
A pandemia de COVID-19 colocou uma enorme pressão sobre os sistemas de saúde em todo o mundo, aumentando a demanda por profissionais de saúde e a necessidade de leitos em unidades de terapia intensiva e suporte respiratório, como ventiladores. No entanto, a taxa de mortalidade entre os casos confirmados tem variado muito entre os países e isso se deve em grande parte às diferenças na capacidade e preparação de seus sistemas de saúde.
“Até o momento, há dados muito limitados sobre a mortalidade de pacientes hospitalizados com COVID-19 ou sobre como os sistemas de saúde têm lidado com a pandemia em países de baixa e média renda” explica Otavio Ranzani, investigador do Instituto de Saúde Global de Barcelona e primeiro autor do estudo.
O Brasil é um país com rendimento médio alto e com um sistema de saúde único para seus 210 milhões de habitantes. No entanto, o sistema de saúde do país foi prejudicado pelas recentes crises económicas e políticas e existe uma grande heterogeneidade entre as diferentes regiões do país.
Os investigadores usaram dados de um sistema de vigilância nacional para avaliar as características dos primeiros 250.000 pacientes internados com COVID-19 no Brasil, e analisaram quantos dos infetados necessitaram de cuidados intensivos ou suporte respiratório, e quantos morreram. Eles também analisaram o impacto do COVID-19 nos recursos de saúde e na mortalidade hospitalar nas cinco grandes regiões do país.
A análise dos investigadores mostrou:
■ Quase metade dos primeiros 254.288 pacientes internados com COVID-19, ou seja, 47% tinha menos de 60 anos.
■ A taxa de mortalidade hospitalar foi elevada tendo atingido 38% e subiu para 60% entre os internados em unidade de cuidados intensivos (UCI) e 80% para os que foram ventilados mecanicamente.
■ Embora COVID-19 tenha sobrecarregado o sistema de saúde em todas as cinco regiões, os internamentos hospitalares e a mortalidade foram consideravelmente maiores nas regiões Norte e Nordeste no início da pandemia, com 31% dos pacientes com menos de 60 anos morrerem em hospitais do Nordeste e no 15% nos hospitais do Sul.
“Essas diferenças regionais na mortalidade refletem as diferenças no acesso a melhores cuidados de saúde que já existiam antes da pandemia”, explicou Fernando Bozza, coordenador do estudo e investigador do Instituto Nacional de Doenças Infeciosas. “Isso significa que o COVID-19 não afeta apenas desproporcionalmente os pacientes mais vulneráveis, mas também os sistemas de saúde mais frágeis”, acrescentou o investigador.
Otavio Ranzani indicou que “o sistema de saúde do Brasil é um dos maiores do mundo em atendimento gratuito a todos e tem sólida tradição na vigilância de doenças infeciosas. Porém, a COVID-19 sobrecarregou a capacidade do sistema”.
Os autores do estudo que teve o envolvimento do Instituto de Saúde Global de Barcelona, instituição apoiada pelo Fundação Caixa, Universidade de São Paulo, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Instituto D’Or de Pesquisa e Educação e Fundação Oswaldo Cruz, concluíram que a alta mortalidade observada em hospitais reforça a necessidade de melhoria da estrutura e da organização do sistema de saúde, principalmente em países de baixo e médio rendimento. Isso implica aumentar os recursos disponíveis – em equipamentos e materiais de consumo a camas de UCI e profissionais de saúde especializados.