A Universidade do Minho (UMinho) representa Portugal no BIOSCAN, um programa para a inventariação e monitorização da biodiversidade à escala global. O método usado no BIOSCAN é baseado na análise de segmentos padronizados do ADN.
O projeto, lançado hoje em Trondheim, na Noruega, envolve mais de mil investigadores de 31 países e conta com um financiamento de 180 milhões de euros para os próximos sete anos, até 2016. A iniciativa surge face ao forte declínio da biodiversidade e à urgência de esta ser integrada nos modelos socioeconómicos, no quadro de um comércio cada vez mais global.
O programa BIOSCAN vai permitir a descoberta de plantas, animais, fungos, algas e seres unicelulares a um ritmo mais elevado e aprofundar o conhecimento das simbioses entre as espécies bem como monitorizar à escala global a dinâmica das comunidades biológicas. O sistema de identificação está assente em códigos de barras de ADN, análogos aos códigos de barras dos produtos comerciais, definindo cada espécie por um conjunto específico de carateres genéticos.
Filipe Costa, investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e professor do Departamento de Biologia da Escola de Ciências da UMinho, referiu: “Conhecemos cerca de dois milhões de espécies, mas estima-se existirem possivelmente entre 10 a 20 milhões, há um trabalho gigante por fazer. Por isso, esperamos até 2026 compilar códigos de barras de ADN de pelo menos os cerca de dois milhões de espécies formalmente reconhecidas, revelando pelo caminho numerosas novas espécies”.
Com a expansão da biblioteca global de códigos de barras de ADN, o BIOSCAN vai facilitar a verificação da autenticidade de alimentos; deteção facilitada de pragas agrícolas; controlo de produtos nas alfândegas; bioprospecção e a conservação da biodiversidade.
Com as ferramentas e a disponibilidade da biblioteca de código de barras podemos saber “se a lata de conserva tem cavala ou sarda, se a planta do bosque tem perfil medicinal, se um mosquito é da espécie que transmite malária, se uma determinada erva é considerada invasora na União Europeia ou, então, inferir se determinada pesca é sustentável com base na ocorrência e distribuição das larvas de peixe”.
Com o mundo a perder espécies mais rápido do que é possível identifica-las e mesmo as descobrir, os cientistas recorrem à tecnologia e neste caso “através dos códigos de barras de ADN, pode-se também fazer avaliações em larga escala sobre o impacto das alterações ambientais na estrutura dos ecossistemas. Isso permitirá à humanidade gerar informação suficiente para formular políticas que protejam a biodiversidade global”, referiu Filipe Costa.
O International Barcode of Life (iBOL), o maior consórcio de sempre para a biodiversidade, que tem por alvo de estudo todas as espécies multicelulares e ecorregiões do planeta, lançou agora o projeto BIOSCAN, onde Filipe Costa, através da UMinho é o representante nacional.
Filipe Costa já presidiu a secção europeia do subprojeto “Fish Barcode of Life” e contribuiu em especial para a compilação de uma biblioteca de códigos de barras de ADN para a vida marinha, detetando novas espécies de peixes e invertebrados de Portugal continental, Açores, Madeira e outros pontos da Europa. Coordenou ainda um projeto-piloto sobre a fiabilidade da aplicação dos códigos de ADN na identificação de espécies crustáceos.
O consórcio iBOL liderado por Paul Hebert, da Universidade de Guelph, Canadá, decidiu iniciar em 2010 uma proposta de inventariação da biodiversidade baseada no ADN. A primeira fase de trabalho durou até 2015, com o programa Barcode 500K, que gerou DNA barcodes para 500.000 espécies e teve 125 milhões de euros de investimento.
O programa BIOSCAN, segunda fase, vai analisar até 2026 as interações entre espécies e estabelecer as bases de uma rede monitorização da biodiversidade para a terceira fase, designada Missão para a Biodiversidade Planetária, a qual pretende completar em vinte anos o inventário total da vida e implementar um sistema global de biovigilância.