O Ministério do Ambiente estabeleceu um limite de 550 visitantes por dia à Reserva Natural das Berlengas, tendo por base um estudo da Universidade de Aveiro (UA). Os biólogos responsáveis pelo estudo, o número representa apenas um progresso “moderado” para atenuar os danos causados pelo número descontrolado de visitantes que aportaram na ilha nos últimos anos.
“Perturbação da avifauna nidificante, pisoteamento da flora, risco de disseminação da flora exótica por transporte de sementes, pólen e fragmentos vegetativos agarrados ao calçado e roupa, lixo atirado sem cuidado, poluição orgânica na praia e águas circundantes, destruição e vandalização dos equipamentos de acolhimento aos visitantes e pressão sobre os sistemas de abastecimento de água doce e de recolha do lixo” são, indicam os autores do estudo, alguns dos danos que o elevado número de visitantes na ilha tem infligido quer à biodiversidade das Berlengas quer às próprias condições de acolhimento.
A portaria publicada em Diário da República, a 22 de maio, foi baseada num estudo encomendado em 2010 pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e desenvolvido por Henrique Queiroga e João Serôdio, biólogos do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA.
O estudo da UA propôs quatro valores, entre 240 e 1290, para o número máximo de visitantes diários da ilha principal (incluindo turistas, pessoal de apoio ao turismo, residentes temporários e representantes das autoridades), baseados na combinação de dois cenários de proteção ambiental (alta e baixa) e satisfação dos visitantes (alta e baixa).
Todos os cenários definidos pela UA respeitaram as limitações impostas do Plano de Ordenamento da Reserva Natural das Berlengas. No entanto, em linha com as recomendações para a implementação e disseminação de boas práticas ambientais, o estudo recomendou um número máximo de 500 visitantes diários, condicionado à requalificação do sistema de tratamento de águas residuais para uma capacidade de 500 equivalentes populacionais.
“Considerando a rotatividade média dos diferentes perfis de visitantes, o valor de 550 visitantes em simultâneo pode provavelmente corresponder a mais de 700 pessoas a visitar a Ilha da Berlenga diariamente, número a que se deve adicionar o pessoal de apoio ao turismo, residentes temporários e representantes das autoridades”, explicou Henrique Queiroga.
“Isto pode facilmente elevar o número máximo de pessoas na ilha a mais de 900 quando as medidas de controlo da visitação estejam devidamente implementadas. Este número está claramente acima da capacidade do atual sistema de tratamento de águas residuais, que nunca foi requalificado para o valor de 500 equivalentes-populacionais”, explicou o biólogo.
Mas Henrique Queiroga, indicou ainda que “este valor representa um progresso moderado relativamente à visitação descontrolada verificada nas últimas duas décadas”.
Os programas de monitorização da visitação do ICNF, atualmente em curso, registaram 19 dias com mais de 1.000 visitantes por dia durante a estação alta de 2018, e um total de 82 mil visitantes durante todo o ano.