Especialistas em medicina tradicional indiana, incluindo o presidente do comité do Governo da Índia encarregue de liderar os esforços para os possíveis usos da medicina tradicional em relação ao COVID-19, descrevem como uma abordagem da Ayurveda e de Ioga pode ajudar a fortalecer a imunidade da pessoa e fornecer um recurso eficaz e acessível de profilaxia da infeção por COVID-19.
Uma descrição bem referenciada de como a Ayurveda pode apoiar as pessoas a proteger-se da COVID-19 foi já publicada no The Journal of Alternative and Complementary Medicine.
Os especialistas descrevem que a Ayurveda concentra-se na resposta do hospedeiro e inclui preparações à base de plantas, bem como medidas para um estilo de vida saudável para lidar com vários agentes de stress, incluindo infeções. Este conceito de estimular a função imune é uma pedra angular da prática Ayurvédica. Os autores discutem a profilaxia local, incluindo o uso de práticas ayurvédicas para ajudar a bloquear a entrada de vírus no corpo e a passagem para os pulmões.
Olhos, nariz e boca como entrada do contravírus
Os olhos, nariz e boca são as principais portas de entrada de gotículas que transportam o coronavírus, SARS-COV-2. Antes do ataque aos pulmões, o coronavírus ganha acesso à região da garganta onde permanece durante algumas horas. A camada de ácidos gordos do coronavírus adere às camadas mucosas húmidas, o que ajuda o coronavírus a entrar nas células pela ligação a recetores celulares específicos.
Um conhecimento sobre como o coronavírus atinge essas portas de entrada pode ajudar a melhorar a resposta imunológica inata das membranas mucosas e, assim, inibir a transmissão do vírus para os pulmões. As medidas a adotar podem funcionar como “máscaras fisiológicas” que impedem a invasão viral.
Para bloquear a entrada do novo coronavírus no corpo as práticas ayurvédicas indicadas pelos especialistas incluem o consumo de água e alimentos quentes, bebidas à base de plantas, gargarejar com água medicamentosa e a inalação de vapor. A profilaxia sistémica enfoca a saúde geral e inclui fatores como dieta, sono, relaxamento mental, comportamentos de estilo de vida de ioga.
Água quente
Beber água quente ou morna é um remédio popular para muitas doenças. Tradicionalmente, a água quente é consumida para diversos situações de febre, inflamação, alterações de metabolismo e alergias, como rinite e asma. Várias especiarias, que são popularmente usadas na cozinha, são adicionadas como agentes únicos ou múltiplos à água a ferver e consumidas como medicamento ao longo do dia. Essas especiarias incluem gengibre; alcaçuz; junça; raízes de vetiver; salsaparrilha indiana; sementes de coentro; erva-doce; casca de canela e acácia catechu.
Enxaguamento bucal e o gargarejar
Líquidos e óleos quentes são usados para gargarejar ou enxaguamento bucal para limpar a boca e a garganta, o que também pode ter um efeito sistémico. Os óleos ou decoções oleosas limpam a cavidade oral, a faringe e a área de amígdalas e provavelmente revestem a mucosa com um biofilme e induzem benefícios imunomoduladores, antioxidantes e antimicrobianos adicionais.
Os especialistas descrevem que o papel primordial da imunidade da mucosa da pessoa no controlo de agentes infeciosos é bem conhecido. Rizoma de açafrão, alcaçuz, a azadirachta indica ou amargosa, acácia arábica e sal natural podem ser usados para preparar soluções de água medicamentosa para bochechar e gargarejar. Gargarejar com estas decoções medicamentosas demonstraram efeitos benéficos na xerostomia (boca seca), dor de garganta no pós-operatório, úlceras orais, gengivite e no crescimento bacteriano.
A glicirrizizina, um componente ativo do alcaçuz, mostrou ser mais eficaz do que os antivirais comuns na inibição da replicação do vírus SARS e na inibição da adsorção e penetração. No ioga é recomendada a limpeza da passagem nasal com água salgada. Os autores do artigo indicam que a eficácia da água salgada nas infeções respiratórias superiores foi relatada em ensaios clínicos randomizados (ECR), mas referem que são necessárias evidências mais conclusivas.
Óleo nasal
A Ayurveda recomenda a aplicação nas narinas, de óleos medicinais feitos a partir de óleo de manteiga e óleos vegetais, como gergelim ou coco. O óleo pode proteger o trato respiratório da entrada de patógenos. Este procedimento conhecido como “nasya” está bem descrito na Ayurveda. Os especialistas escrevem que a aplicação de óleo de gergelim puro mostrou-se eficaz no tratamento da mucosa nasal seca. Semelhante a gargarejar com enxaguantes bucais, a aplicação de óleo nasal possivelmente forma um biofilme e pode comportar-se como uma barreira à entrada das partículas do vírus. Investigadores de Medicina Tradicional Chinesa já propuseram o uso de aplicação de óleo nasal para prevenir a infeção por SARS-COV-2.
Os especialistas concluem que “o princípio básico da medicina é de que “prevenir é melhor que remediar”, e que “as medidas simples e viáveis baseadas em Ayurveda e no Ioga podem ser rapidamente divulgadas em campanhas de saúde pública”.
Quando as pessoas estão com stress devido a métodos de distanciamento social e a barreiras físicas, as pessoas podem encontrar “conforto e apoio em algumas das práticas tradicionais profundamente enraizadas que podem protegê-las da infeção e das suas condições debilitantes associadas”.