Em traços gerais, quais são as principais alterações motoras associadas ao AVC?
O AVC é um problema de saúde comum que constitui a principal causa de incapacidade permanente em Portugal, sendo que a maioria das alterações após um AVC são motoras.
As alterações motoras diferem consoante o território cerebral afetado, destacando-se como principais a fraqueza muscular, a alteração do tónus muscular (caracteriza-se pela resistência ou tensão dos nossos músculos), alterações do equilíbrio e dor.
Estas alterações irão condicionar a mobilidade, funcionalidade, independência e qualidade de vida destas pessoas.
É possível voltar a recuperar totalmente a mobilidade que se tinha antes da ocorrência do episódio vascular cerebral?
A reabilitação após um AVC depende de vários fatores, como o tipo de AVC, território cerebral afetado, fase em que a pessoa se encontre, suporte fornecido e características individuais da pessoa.
A mobilidade é possível graças ao trabalho conjunto de várias funções motoras, como por exemplo a amplitude articular, a força e tensão muscular, sendo que a sua recuperação está assim dependente do correto funcionamento destas funções e de outras como a sensibilidade.
Sabe-se que o início da reabilitação o mais precoce possível e um acompanhamento de uma equipa multidisciplinar e especializada, são aspetos fundamentais para um bom prognóstico nestes casos.
Que tipo de estratégias poderão ser implementadas para promover a mobilidade?
A fisioterapia constitui uma das abordagens não-farmacológicas envolvidas na reabilitação após um AVC, tendo um especial enfoque na reabilitação das alterações motoras, bem como na promoção da mobilidade.
Normalmente o processo de reabilitação começa com uma avaliação subjetiva e objetiva, com a aplicação de escalas de avaliação adequadas à patologia, que permitem definir os objetivos e o plano de intervenção.
A intervenção na promoção da mobilidade, passa pela reeducação do movimento, ou seja, por ensinar novamente o movimento dito “normal”, bem como pela promoção da amplitude de movimento, força muscular, estabilidade articular e tónus muscular.
Para além da intervenção profissional, o doente pode ter um papel autónomo a desempenhar na sua recuperação?
O doente é o foco principal de toda intervenção, sendo que a sua motivação e colaboração são fundamentais durante todo o processo de reabilitação.
Consoante as suas capacidades motoras e cognitivas, este poderá ter um papel autónomo, no sentido em poderá por em prática no seu dia-a-dia e em contexto domiciliar os ensinamentos, estratégias e alguns exercícios adaptados, que irão auxiliar na manutenção/promoção das suas funções motoras.
Para além disso, a família/cuidadores tem um papel fundamental na reabilitação e manutenção dos resultados obtidos ao longo do tempo, sendo crucial o seu envolvimento em todo o processo, assim como o seu ensino/treino de estratégias facilitadoras para lidar com as dificuldades nas atividades de vida diária, adaptações no domicílio, prevenção de complicações decorrentes da diminuição de mobilidade, promoção de um correto posicionamento/mobilidade e na prevenção e redução do risco de quedas.
Artigo de opinião de Mariana Mateus Fisioterapeuta do NeuroSer, Centro de Diagnóstico e Terapias dedicado às doenças neurológicas.
O NeuroSer, Centro de Diagnóstico e Terapias dedicado às doenças neurológicas, organiza um ciclo de sessões práticas e informativas sobre Acidente Vascular Cerebral dirigido a cuidadores e familiares.
A sessão do dia 20 de fevereiro, das 18h00 às 19h00, em Lisboa será dedicada ao tema ‘Será que a mobilidade vai voltar a ser a mesma?’, e contará com a fisioterapeuta Mariana Mateus.