Estudo clínico de grande dimensão conclui que pacientes de cancro do pulmão de pequenas células tratados com radioterapia duas vezes por dia em vez de apenas uma vez por dia aumenta a sobrevida a longo prazo dos pacientes.
O regime de terapia de duas vezes por dia era recomendado como padrão, com base em estudos anteriores, mas muitos pacientes não têm vindo a ser submetidos a radioterapia duas vezes por dia devido, em parte, ao desafio de comparecer aos tratamentos essas duas vezes no dia.
O estudo liderado Jeffrey Bogart da Upstate Medical University, EUA, e já publicado na Journal of Clinical Oncology, envolveu mais de 700 pacientes de 2008 a 2019, de entre cerca de 30.000 pessoas diagnosticadas com cancro do pulmão de células pequenas, por ano. Um tipo de cancro que é tratado com quimioterapia e radioterapia, e representa cerca de 15 a 20% de todos os pacientes com cancro do pulmão.
Os resultados do ensaio clinico mostram que a radioterapia administrada duas vezes por dia, durante três semanas, era um tratamento mais eficaz do que a mesma dose de radioterapia uma vez ao dia durante cinco semanas.
Apesar do paciente se submeter à radiação por um período mais curto – três semanas em vez de cinco – receber duas doses de radioterapia num dia é difícil para muitos pacientes, referiu Jeffrey Bogart. A radioterapia duas vezes ao dia deve ser administrada com pelo menos seis horas de intervalo, o que significa que o paciente deve estar no hospital duas vezes no dia. É um regime cansativo e pode ser difícil para quem não mora perto do hospital.
O estudo do investigador mostrou que uma dose maior de radiação administrada uma vez por dia durante sete semanas não apresentou diferença estatística nas taxas de sobrevivência do que o regime de duas vezes ao dia. Jeffrey Bogart esclareceu que a atual tecnologia é muito mais avançada do que de há 30 anos, incluindo tratamento muito focado com orientação por imagem que pode produzir radiação direcionada, resultando em menos efeitos colaterais.
Para o investigador os resultados do estudo permitem duas opções iguais para os pacientes, ou seja: “permite aos pacientes uma escolha real, entendendo que pode haver algumas diferenças nos efeitos colaterais ou na capacidade de concluir uma terapia mais longa, mas agora os pacientes sabem que ambos os regimes podem ser associados a bons resultados”. O investigador acrescentou: “Ainda oferecemos duas vezes por dia para células pequenas, mas agora estamos mais confortáveis com a dose alta uma vez por dia por causa dos resultados deste ensaio. Esta foi uma grande mudança e considero que dá mais conforto aos provedores em todo o país. Existem muitos centros em todo o país que participaram deste estudo.”
O investigador referiu que o próximo passo para avaliar o benefício deste protocolo de tratamento é olhar para subpopulações, por exemplo, com base no sexo ou idade.
“O objetivo ao longo do tempo é fugir da abordagem de tamanho único para oferecer uma terapia melhor e mais personalizada”, disse Jeffrey Bogart. “As descobertas deste estudo movem-nos nessa direção. As descobertas precisam de ser confirmadas em ensaios subsequentes, mas também podem fornecer muitas informações para ajudar a projetar ensaios futuros”.