Na Sé de Setúbal, na noite de 30 de março, durante a Vigília Pascal, o Cardeal D. Américo Aguiar e bispo de setúbal, que presidiu à celebração, transportou, na sua homilia, os presentes para o registo temporal dos acontecimentos relacionados com a pós-morte de Jesus Cristo e o reflexo com os tempos atuais.
D. Américo Aguiar começa por lembrar três mulheres da Galileia. Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé são apresentadas como um reflexo da sociedade do seu tempo em que às reações e comentários que faziam nas costas do Mestre (Jesus Cristo) não corroeriam a verdade, e responderiam à pergunta de Jesus “e vós quem dizeis que Eu sou?”.
Tal como as três mulheres os discípulos de Jesus Cristo passaram pelas mesmas contrariedades. Um retrato foi dado por D. Américo Aguiar citando um trecho da Homilia da Vigília Pascal de 2018, do Papa Francisco.
“É a noite (…) do discípulo que se sente (…) paralisado, sem saber para onde ir diante de tantas situações dolorosas que o oprimem e envolvem.
É o discípulo de hoje, emudecido diante de uma realidade que se lhe impõe fazendo-lhe sentir e – pior ainda – crer, que nada se pode fazer para vencer tantas injustiças que vivem na sua carne muitos dos nossos irmãos.
É o discípulo perplexo porque imerso numa rotina avassaladora que o priva da memória, faz calar a esperança e habitua-o ao “sempre assim se fez”.
Em cada passo da Homilia, D. Américo Aguiar estabelece a relação com os atuais dias que se vivem de guerras em várias regiões do mundo, como a Ucrânia, a Rússia e a região a que chama Terra de Jesus, onde as mulheres continuam a espelhar a dura realidade, e para isso cita a Homilia da Vigília Pascal 2017, do Papa Francisco.
“No rosto destas mulheres podemos encontrar os rostos de tantas mães e avós, os rostos de crianças e jovens que suportam o peso e o sofrimento de tanta desumana injustiça.
Nos seus rostos, vemos refletidos os rostos de todos aqueles que, caminhando pela cidade, sentem a tribulação da miséria, a tribulação causada pela exploração e o tráfico humano.
Neles, vemos também os rostos daqueles que experimentam o desprezo, porque são imigrantes, órfãos de pátria, de casa, de família; os rostos daqueles cujo olhar revela solidão e abandono, porque têm mãos com demasiadas rugas.
Na sua tristeza, elas têm o rosto de todos aqueles que, ao caminhar pela cidade, veem a dignidade crucificada. No rosto destas mulheres, há muitos rostos; talvez encontremos o teu rosto e o meu.”
D. Américo Aguiar vai na sua homilia mantendo que existe sempre esperança, um caminho, uma direção e uma possibilidade de recomeço. Tal como a surpresa de um sepulcro vazio se transformou num objetivo. O bispo de Setúbal voltou a citar a Papa Francisco na sua Vigília Pascal de 2021.
“Agora ide dizer… Ele vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis, como vos disse.” … “Ir para a Galileia significa, antes de mais nada, recomeçar.” … “Ir para a Galileia significa, em segundo lugar, percorrer caminhos novos.” … “Ir para a Galileia significa, além disso, ir aos confins.”
… “Hoje Jesus também nos pede para irmos para a Galileia, para esta “Galileia” real. É o lugar da vida diária, são os caminhos que percorremos todos os dias, são os recantos das nossas cidades onde o Senhor nos precede e Se torna presente, precisamente na vida de quem se encontra ao nosso lado e partilha connosco o tempo, a casa, o trabalho, as fadigas e as esperanças.” … “Irmãs e irmãos, estamos disponíveis para nos colocarmos a caminho da Galileia?”