A madeira não é apenas um material tradicional, ela oferece um grande potencial de inovação como componentes de alta tecnologia e matéria-prima para a química. Esta é uma das conclusões do Programa Nacional Suíço de investigação ‘Recursos de Madeira’, que foi desenvolvido ao longo dos últimos cinco anos.
O trabalho de investigação permitiu desenvolver novas técnicas de construção e analisou a gestão das florestas suíças. “Estudar o recurso natural requereu uma abordagem abrangente e sintética”, referiu Martin Riediker, presidente do Comité Diretivo do Programa, e acrescentou: “Isto deu-nos uma visão geral da situação e permitiu identificar muitas linhas de ação promissoras na melhoria do aproveitamento do potencial da madeira, e onde a inovação irá desempenhar um papel fundamental.”
A madeira pode substituir o petróleo
Baseada principalmente no petróleo e no carvão, a química orgânica deve adaptar-se ao fim dos recursos fósseis. A biomassa de vegetais é uma alternativa realista, como foi demonstrado numa série de projetos do Plano Nacional Suíço de Investigação.
Diferentes equipas baseadas na École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), na ETH Zurich e na Escola Universitária da Suíça da Norte-Oeste (FHNW) desenvolveram novos métodos para transformar os principais componentes da madeira, a celulose e a lignina, em compostos aromáticos e noutros compostos intermédios importantes para a indústria química. Para efeitos de comercialização dos resultados da investigação, Sviatlana Siankevich, da EPFL, fundou a startup Embion.
Os projetos do Plano Nacional Suíço de Investigação ‘Recursos de Madeira’ variaram desde investigação básica até à investigação aplicada. Michael Studer da Universidade de Berna de Ciências Aplicadas conseguiu melhorar os processos de fermentação de faia para a produção de etanol. A instalação de uma fábrica piloto está já em discussão envolvendo uma parceria com um industrial e um fornecedor de madeira.
O investigador François Maréchal da EPFL desenvolveu ferramentas digitais para otimizar o dimensionamento de biorrefinarias, e o investigador Tilman Schildhauer do Paul Scherrer Institute (PSI) conseguiu otimizar a produção de biometano.
A madeira possui potencial para inovação
Martin Riediker referiu que para haver futuro “a madeira tem que se reinventar”, e acrescentou que a madeira “é apreciada como um material nobre, mas devemos explorar melhor o seu potencial de inovação como componente de alta tecnologia”.
Ingo Burgert, investigador da ETH Zurich, conseguiu incorporar um polímero nas paredes celulares da madeira para a tornar mais repelente e estável, e foi já criada a startup Swiss Wood Solution para comercializar os novos materiais de madeira. Por outro lado, um projeto liderado pelo investigador Christoph Weder no Institut Adolphe Merkle de Fribourg inseriu celulose extraída de árvores em polímeros para melhorar suas propriedades mecânicas.
Heiko Thoemen, investigador da Universidade de Berna de Ciências Aplicadas, melhorou o processo de fabricação de placas sandwich colocando uma espuma plástica entre duas placas de madeira, dando origem a compostos comuns em móveis pré-fabricados vendidos como peças.
Na Escola de Engenharia e Arquitetura de Fribourg, a investigadora Daia Zwicky desenvolveu um betão muito leve substituindo parte da areia por serradura. O programa atribuiu grande importância à transferência de conhecimento e tecnologia entre investigação e a indústria, e incluiu 17 eventos temáticos e workshops. O resultado lesou a interações intensivas entre mais de 200 profissionais e à criação de três startups e numerosas declarações de intenções para parcerias de colaboração.
Uma das principais recomendações do Programa é a criação de um ‘Centro de Competências para Biorefinagem’, bem como um ‘Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Inovações de Madeira Suíça’. Também é necessária uma estratégia bioeconómica nacional, na qual a madeira como recurso encontro o seu próprio papel.
Para Martin Riediker “explorar florestas faz sentido numa ótica ecológica e de biodiversidade, pois permite o armazenamento de CO2 por décadas e, assim, mitigar o efeito de estufa”, e acrescentou: “Nós mantemos um relacionamento muito emocional, e íntimo com a madeira, pois é o material dos móveis antigos e das casas da nossa infância, mas a madeira permite muito mais.”