A fadiga é um dos efeitos colaterais mais comuns dos tratamentos contra o cancro, incluindo a quimioterapia e radioterapia.
A condição de fadiga relacionada com cancro é geralmente pior e mais difícil de controlar em comparação com a condição de fadiga em pessoas sem cancro. No caso de cancro a fadiga pode persistir durante semanas, meses ou até anos após o ter terminado o tratamento.
Investigadores do Rogel Cancer Center, em colaboração com a Arcascope, uma startup de origem na Universidade de Michigan, desenvolveram e testaram um aplicativo personalizado que monitoriza o ritmo circadiano do utilizador e faz recomendações comportamentais para reduzir a fadiga diária.
De acordo com a descrição do trabalho já publicado na Cell Reports Medicine, as abordagens tradicionais para gerir a fadiga relacionada com cancro incluem medicamentos, exercícios e práticas de meditação. No entanto, essas abordagens podem não funcionar para todos os pacientes.
“Essas medidas atraem apenas uma parcela da população”, disse Muneesh Tewari, professor de medicina interna e membro do UM Rogel Cancer Center. O especialista acrescentou: “Queríamos fornecer algo que pudesse ser mais fácil e amplamente acessível.”
Os nossos corpos têm um relógio interno que controla o ciclo de sono-vigília. O relógio segue um padrão de 24 horas e afeta vários processos, como digestão e temperatura corporal.
Estudos demonstraram que distúrbios no sistema pioram a fadiga e a qualidade de vida em pacientes com cancro, e fatores externos como a luz podem ajudar a modificar os ritmos circadianos.
“Embora tratamentos baseados em iluminação possam ser úteis, estudos anteriores usaram uma abordagem única, na qual os pacientes eram expostos à luz em um horário específico do dia, sem levar em conta os seus ritmos circadianos individuais”, disse Caleb Mayer, pós-graduado em matemática e primeiro autor do estudo.
Para melhorar os tratamentos, a equipa desenvolveu um aplicativo designado por Arcasync que rastreia os padrões de sono e vigília do utilizador com base na frequência cardíaca e nos padrões de atividade física.
Então, usando modelos matemáticos, o aplicativo foi capaz de fazer recomendações como “Procure luz brilhante” em um determinado horário do dia.
No estudo foram envolvidos 138 participantes, divididos entre um grupo de controlo e um grupo de intervenção, os investigadores testaram o aplicativo em pacientes com cancro da mama, cancro da próstata e cancro no sangue.
Durante 12 semanas, todos os participantes relataram os níveis de fadiga, distúrbios do sono, ansiedade, depressão e saúde em geral.
Os participantes do grupo de intervenção apresentaram uma diminuição da fadiga diária e semanal, demonstrando que recomendações personalizadas podem melhorar a qualidade de vida.
“Mostramos que se pode pegar num dispositivo perfeitamente integrado à vida e usá-lo para guiar os ritmos circadianos”, disse Sung Won Choi, professor de hematologia-oncologia pediátrica e membro do Instituto de Política e Inovação em Saúde.
“O alcance deste aplicativo pode ser muito maior do que medicamentos tradicionais ou regimes de exercícios, independentemente do tipo de cancro”, referiu Sung Won Choi.
A equipa de investigadores indicou que irá expandir o estudo para incluir mais participantes e também avaliar até que ponto cada indivíduo seguiu as recomendações de luz.
“Lidar com a fadiga é o primeiro passo. Em seguida, também queremos explorar o relógio circadiano para tornar os medicamentos mais eficazes e menos tóxicos”, disse Olivia Walch, CEO da Arcascope, que conduziu a investigação.
“O nosso objetivo é que versões futuras do aplicativo ajudem as pessoas a programar o comprimidos ou a se anteciparem a uma infusão programada, para maximizar o efeito dos tratamentos, mantendo os efeitos colaterais no mínimo”, concluiu o investigador.