Em Portugal há apenas 25 mil empresas que exportam sustentadamente, referiu hoje o presidente da AIP-CCI, José Eduardo Carvalho, durante o encontro “Open Days PME Connect”, e por isso “há muito trabalho a fazer”. Um “trabalho diferente, que se afastasse um pouco dos instrumentos tradicionais como as missões empresariais e potenciasse as relações entre grandes empresas e PME, usando as melhores experiências empresariais para permitir a expansão dos negócios internacionais das pequenas e médias empresas”.
Na abertura dos Open Days PME Connect, hoje, 20 de fevereiro, no Auditório da Casa da América Latina e UCCLA, o presidente da AIP-CCI, indicou, em relação à última remodelação do Governo, que “foi extremamente positivo retirar os fundos comunitários do Ministério das Infraestruturas e da Habitação”, e atribuir ao novo ministro do Planeamento a gestão dos fundos, ou seja, “a uma pessoa como Nelson de Souza, que conhece aprofundadamente o tecido empresarial português e os instrumentos para o seu desenvolvimento e crescimento”.
Manuela Júdice, secretária geral da CAL, salientou o importante trabalho que resulta do PME Connect, e revela que “aceitou o desafio da AIP-CCI com o objetivo de dar a conhecer o mercado da América Latina às PME portuguesas”, que além de já ser um mercado de eleição, “tem ainda um enorme potencial para as empresas portuguesas”.
No painel “A internacionalização da economia portuguesa na ótica dos grandes grupos económicos”, os representantes da Tekever, Sonae MC, EDP e Mota-Engil, parceiros do PME Connect, salientaram a importância do mentoring, principalmente para as PME olharem para dentro e estabelecerem prioridades e acertarem processos.
Pedro Arrais, diretor de Relações Institucionais da Mota-Engil, salientou a postura séria e de confiança das empresas portuguesas na abordagem aos mercados internacionais e “na forma como trabalhamos e como conseguimos ser locais”. O responsável revelou que a Mota Engil já contratou mais de um milhão de euros com PME nacionais que integraram o projeto PME Connect, fruto da confiança e do trabalho desenvolvido nos workshops colaborativos deste projeto. “As empresas portuguesas não são em nada piores que as outras, o que falta às empresas portuguesas é juntarem-se”, concluiu o diretor de Relações Institucionais da Mota-Engil.
Ricardo Mendes, CEO da Tekever, exemplificou também a relação da empresa com as PME com a criação de uma cadeia de fornecimento de empresa portuguesas para a criação de um satélite, uma aposta na qualidade do projeto baseado no melhor trabalho de um conjunto de empresas. Na prática, Pedro Vasconcelos, diretor de Análise de Negócios da EDP, realçou algumas dicas essenciais à internacionalização das PME: o foco nos mercados certos, a escolha dos parceiros locais certos e um profundo conhecimento das particularidades desse mercado, e, acima de tudo, a persistência, porque este pode ser um trabalho complexo e extremamente demorado.
Marcos Pereira, Head of International Sourcing & Commercial da SONAE MC, contou que trabalharam com sete PME com quem tiveram uma troca de ideias muito positiva sobre as potencialidades de integração dessas empresas na rede da SONAE, tendo em conta a experiência e solidez do plano de internacionalização do grupo. Começando com a análise da oferta, o trabalho com as PME passou também por um ponto fundamental que são as barreiras à entrada em determinados mercados e, por fim, e na prática, os planos para a internacionalização das PME.
A perceção que existe lá fora é que o que é português é bom e tem qualidade.
O presidente da AICEP, Luís Filipe Castro Mendes, referiu a evolução do País ao longo dos últimos 20 anos na perspetiva dos pontos fortes e fracos das empresas portuguesas nos mercados internacionais. “Hoje em dia as empresas portuguesas apresentam grande valor acrescentado, e a perceção que existe lá fora é que o que é português é bom e tem qualidade”, indicou presidente da AICEP, falando em áreas como os produtos, o talento dos recursos humanos, a inovação e até a tecnologia de ponta.
Entre 2010 e 2017 as empresas com perfil exportador aumentaram quase 50%, mas representam apenas 6,3% das empresas portuguesas, sendo que o volume de negócios de exportações aumentou 10%, com um reflexo no crescimento do peso no número de empregados de 19% para 23%.
“Conseguimos reduzir a dependência dos maiores mercados tradicionais (França, Reino Unido, Alemanha e Espanha), e aumentar quotas em mercados como o Brasil ou a China, e entrar em novos mercados, como Marrocos ou os países de alargamento da Europa. Os desafios são agora: crescer no verdadeiro mercado interno, o Europeu, que é o maior mercado de consumo do mundo, e diversificar para outros mercados de forma a reduzir a exposição a ciclos específicos menos positivos.
Portugal tem cometido muitos erros estratégicos
“Portugal tem cometido muitos erros estratégicos e precisa de um verdadeiro plano de desenvolvimento”, referiu Vitor Ramalho, secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA). O responsável salientou o peso e importância da língua portuguesa na internacionalização e na conquista de novas relações comerciais. “A língua é um facilitador, e o português é a quarta língua mais falada no mundo, a terceira mais falada nas redes sociais, a primeira no Atlântico sul, e presente em 32 instituições internacionais. Por isso temos de nos orgulhar deste património”, que facilita as relações comerciais com os países de língua portuguesa, mas não só, concretizando com o exemplo da China.