Investigadores da Universidade de Alberta, Canadá, vão dar início a testes clínicos de um fármaco usado para curar a peritonite mortal em gatos, uma doença mortal causada por um coronavírus, e que acreditam que também é eficaz no tratamento da COVID-19 em humanos.
Joanne Lemieux, professora de bioquímica da Faculdade de Medicina e Odontologia, da Universidade de Alberta, e líder do estudo, referiu: “Em apenas dois meses, os resultados do estudo mostraram que o fármaco é eficaz na inibição da replicação viral em células com SARS-CoV-2”.
E por isso “é muito provável que este medicamento funcione em humanos, pelo que estamos convictos de que será um tratamento antiviral eficaz para pacientes com COVID-19”.
O medicamento é um inibidor da protease que interfere na capacidade de replicação do vírus, terminando assim com a infeção. As protéases são essenciais para muitas funções do corpo e são alvos comuns de medicamentos que tratam de tudo, desde pressão alta até ao cancro e VIH.
O inibidor da protease foi estudado pela primeira vez pelo químico John Vederas e pelo bioquímico Michael James da Universidade de Alberta após o surto de síndrome respiratória aguda grave (SARS) em 2003, o medicamento foi desenvolvido por investigadores que mostraram que cura uma doença fatal em gatos.
O trabalho para testar o fármaco contra o coronavírus que causa COVID-19 foi um esforço de cooperação entre quatro laboratórios da Universidade de Alberta, dirigidos por Lemieux, John Vederas, professor de bioquímica Howard Young e Lorne Tyrrell, diretor fundador do Instituto de Virologia Li Ka Shing. Alguns dos experimentos foram realizados pelo programa Stanford Synchrotron Radiation Lightsource Structural Biology.
Os resultados dos trabalhos de investigação já foram publicadas na revista científica “Nature Communications”, após serem divulgação no BioRxIV.
“Há uma regra com a investigação da COVID de que todos os resultados precisam ser tornados públicos imediatamente”, referiu Joanne Lemieux, e é por isso que foram divulgadas antes de serem revistas pelos pares. Um trabalho que tem chamado a atenção de mundo científico.
Joanne Lemieux explicou que John Vederas sintetizou os compostos, e que Lorne Tyrrell testou-os no vírus SARS-CoV-2 em laboratório em linhas de células humanas. Os dois grupos de investigação de Young e Lemieux revelaram a estrutura cristalina do fármaco conforme ela se liga à proteína.
“Determinamos a forma tridimensional da protéase com o fármaco na bolsa do sítio ativo, mostrando o mecanismo de inibição”, referiu a investigadora. “Isto permitir-nos-á desenvolver fármacos ainda mais eficazes.”
Joanne Lemieux disse que continuará a testar modificações do inibidor para o ajustar ainda melhor dentro do vírus. Mas o medicamento atual mostra ação antiviral suficiente contra a SARS-CoV-2 para prosseguir imediatamente com os testes clínicos.
“Normalmente para um medicamento entrar em testes clínicos precisa de ser confirmado em laboratório e depois testado em modelos animais”, explicou a investigadora. “Como este fármaco já foi usado para tratar gatos com coronavírus e é eficaz com pouca ou nenhuma toxicidade, então já passou por esses estágios e isso permite-nos seguir em frente.”
Assim, “devido aos dados sólidos que nós e outros reunimos, estamos a realizar ensaios clínicos para este medicamento como um antiviral para COVID-19.”
Os investigadores estabeleceram uma colaboração com a Anivive Life Sciences, uma empresa de medicina veterinária que está a desenvolver o medicamento para gatos, para produzir com qualidade e a quantidade necessária para os testes clínicos em humanos.
Joanne Lemieux concluiu que provavelmente será testado em Alberta em combinação com outros antivirais promissores, como o remdesivir, o primeiro tratamento aprovado para uso condicional em alguns países, incluindo os Estados Unidos e o Canadá.