Anticorpos de imunoglobina G (IgG) produzidos em resposta à proteína spike do coronavírus SARS-CoV-2, que causa a COVID-19, podem tornar-se mais graves em alguns casos, conclui um novo estudo liderado por Willianne Hoepel do Centro Médico Académico de Amesterdão.
Em experiências com soro retirado de pacientes com COVID-19 grave, os investigadores descobriram um nível elevado de IgG anti-spike que ajudou a desencadear uma resposta imunológica hiperativa em macrófagos alveolares.
Uma alteração molecular chave da IgG, chamada fucosilação, também era menos comum nesses anticorpos anti-spike, tornando-os mais pró-inflamatórios. Willianne Hoepel e equipa de investigadores também identificaram fostamatinibe, um inibidor de pequena molécula aprovado da proteína Syk, como um medicamento que pode neutralizar a resposta hiperinflamatória observada em macrófagos expostos a IgG específica para o SARS-CoV-2.
Para os investigadores estas descobertas ajudam a explicar porque é que alguns pacientes com COVID-19 ficam gravemente enfermos assim que começam a produzir anticorpos contra o vírus. Em outras experiências de laboratório, os investigadores também demonstraram que os macrófagos que são ativados pelos anticorpos anti-spike podem interromper as células pulmonares in vitro e desencadear pequenos coágulos sanguíneos, semelhantes aos com sintomas associados à COVID-19 grave.
Ainda não está totalmente esclarecido que, como as infeções graves por SARS-CoV-2 levam a níveis anormais de IgG e níveis mais baixos de fucosilação, mas Hoepel et al. observe que esses fatores voltam ao normal algumas semanas após a resposta hiperinflamatória. Esse retorno à normalidade da IgG pode ajudar a explicar por que as pessoas que são diagnosticadas com COVID-19, duas vezes, não apresentam a mesma resposta hiperinflamatória na segunda vez.
As descobertas também têm potenciais implicações no uso de plasma convalescente para o tratamento de pacientes com COVID-19, uma vez que o plasma pode conter ainda as versões hiperinflamatórias de IgG.