Dados do estudo epidemiológico para determinação da prevalência da anemia e do défice de ferro na população portuguesa adulta – EMPIRE desenvolvido pela Anemia Working Group Portugal indicam que, em Portugal, a prevalência de anemia nos doentes hospitalizados é superior a 20,6%, e que 4% destes apresentam um quadro clínico agudo de infeção ou inflamação.
Nuno Marques, Diretor Clínico do Hospital Garcia de Orta, esclareceu que “a anemia é uma manifestação comum de uma patologia infeciosa” e grande parte das infeções pode induzir destruição de glóbulos vermelhos, o que significa que “teremos sempre algum grau de anemia associada”.
O especialista médico acrescentou: “Um estudo recente, realizado num serviço de Medicina Interna em Pádua, Itália, analisou a prevalência de anemia em doentes hospitalizados, num total de 435 doentes estudados. Cerca de 66,6% dos doentes admitidos por infeção, apresentavam anemia. Outro estudo, realizado na China, descreveu uma prevalência de 55% de anemia em doentes hospitalizados e infetados por VIH-1.”
No dia 26 de novembro de 2020 assinala-se o Dia da Anemia. Um tema vai estar em debate na reunião anual do Anemia Working Group Portugal – Associação Portuguesa para o Estudo da Anemia, e que este ano é sob o lema “Educar para Prevenir”. A reunião realiza-se online nos dias 20, 21, 27 e 28 de novembro.
O especialista, Nuno Marques, esclareceu também que a anemia por doença crónica surge frequentemente em doentes hospitalizados ou associada a diversas patologias, como é o caso de doenças infeciosas, neoplásicas ou autoimunes.
A relação entre infeção e anemia não é fácil, e “são várias as patologias infeciosas que podem decorrer de diferentes tipos de anemia e os mecanismos subjacentes não são exclusivos. Uma infeção pode apresentar vários mecanismos contributivos para o aparecimento de anemia”, explicou Nuno Marques.
A anemia pode ser proveniente de infeções virais, bacterianas ou infeções associadas à deficiência de vitamina B12 e ao consumo de alguns alimentos, como é o caso de peixe cru.
A anemia é uma manifestação comum durante uma infeção e como o Diretor Clínico do Hospital Garcia de Orta sublinha, “é importante avaliá-la de forma precoce, principalmente em doentes que requeiram internamento por forma a avaliar numa primeira instância a necessidade de tratamento específico”.
No caso dos doentes com insuficiência cardíaca, a avaliação precoce é benéfica, uma vez que “a anemia requer sempre algum grau de aumento do débito cardíaco para manter uma oxigenação tecidular adequada. Assim, doentes com patologia cardíaca como cardiopatia isquémica ou insuficiência cardíaca têm um benefício claro na rápida identificação e tentativa de compensação da anemia”.
Também no caso dos doentes que sofrem de problemas respiratórios, já que a anemia “pode levar também a um mecanismo de compensação respiratório com aumento da frequência respiratória, na tentativa de otimizar a oxigenação tecidular e este mecanismo pode agravar casos de infeção respiratória, sépsis, etc.”.