“Às vezes, uma ideia é consolidada ao longo de 50 anos”, partilhou o arquiteto Álvaro Siza Vieira, na intervenção no painel “On Drawing”, que decorreu ontem, dia 10 de julho, no Archi Summit 2019. A conferência, sob o formato de diálogo entre o Pritzker português e Niall Hobhouse, curador da London School of Architecture e um dos maiores colecionadores de desenhos de arquitetura do mundo, versou sobre o caderno de esboços do projeto de Siza Vieira do conhecido bairro da Malagueira, em Évora, cujo desenvolvimento durou 20 anos, entre 1977 e o ano 2000.
Siza Vieira referiu que no arranque do projeto “estava tudo muito claro” e comparou-o inclusive com um trabalho de tricô, “já havia uma ideia e depois umas coisas surgem a seguir às outras, rapidamente e de forma natural”.
“Tentámos combinar as casas tradicionais com as novas casas”, pois “o objetivo era fazer uma parte nova de Évora, que partilhasse os mesmos valores da cidade medieval”. Mas o arquiteto confessou que teve de fazer algumas cedências no que respeita aos projetos das casas, face a exigências de moradores, mas explica que apenas manteve a sua posição nalgumas situações porque “queria autenticidade, não queria conflitos”.
O Bairro da Malagueira é formado por 1.200 casas em banda com telhado em terraço. O bairro destaca inovação em termos de tipologias de habitat e morfologia urbana, e consequentes implicações ideológicas e políticas. Da autenticidade destaca-se o pormenor do muro do pátio das casas, cuja variação da sua altura opõe dois tipos de pátio: de um muro elevado resulta um pátio fechado e íntimo voltado para a casa, enquanto que um muro baixo dá origem a um pátio aberto que expõe a casa à rua, aberta à comunidade. Destaca-se também o aqueduto ao qual Siza quis conferir um papel simbólico de unificação do bairro.
Durante a tarde de hoje, dia 11, sob o tema “On building”, os diálogos da construção como um ato de transformação, de mudar e incluir espaços abertos, mas também de transformar visões em realidade, em construções que perduram, reunindo um vasto número de valores culturais. Os diálogos sobre arquitetura juntaram Barão-Hutter com Matilde Girão; Stephen Taylor com Jorge Carvalho; e Charlotte Von Moos com Margarida Quintã. Amanhã, dia 12 de julho, o tema “On the Monumental” é o mote para os diálogos de Umberto Napolitano e Julia Albani; Job Floris Monadnook e Paulo Martins Barata; e Ricardo Bak Gordon e Rui Furtado.
O espaço do Archi Summit 2019 desenrola-se por três pisos das Carpintarias de São Lázaro, e, além das conferências principais, conta com um espaço de exposição e outras dinâmicas, inclusive no terraço com vista para a cidade. No espaço de exposição de soluções e materiais para construção destaca-se a presença de marcas como a Secil, a Gyptec, a estreante Volcalis, a Barbot e o grupo BMI, que irão apresentar algumas das mais recentes soluções dos seus portefólios.