Uma alteração com perda de fibras nervosas e aumento de células imunes (dendríticas) na superfície do olho (córnea) pode identificar consequências a longo prazo da COVID-19, a designada ‘COVID Longa’, sugere estudo já publicado no British Journal of Ophthalmology.
Os investigadores indicam que as alterações foram particularmente evidentes entre as pessoas que apresentaram sintomas neurológicos durante a infeção pela COVID-19, como perda do paladar e do olfato, dor de cabeça, tontura, dormência e dor neuropática.
A “COVID longa” é caracterizada por uma gama de sintomas potencialmente debilitantes que continuam durante mais de 4 semanas após o término da fase aguda da infeção e que não são explicados por um diagnóstico com causas alternativas.
No estudo é referido que cerca de 1 em cada 10 pessoas que tiveram uma infeção por COVID-19 deverão desenvolver ‘COVID longa’, e é sugerido que pequenos danos apresentados pelas fibras nervosas do olho podem estar subjacentes ao desenvolvimento dessa “COVID longa”.
Para explorar as consequências da COVID-18 os investigadores usaram uma técnica de laser de imagem em tempo real, não invasiva e de alta resolução chamada Microscopia Confocal da Córnea (MCC), para detetar danos nos nervos na córnea.
A córnea é a parte transparente do olho que cobre a pupila, a íris e o interior cheio de líquido. A sua principal função é focalizar a maior parte da luz que entra no olho.
A MCC tem sido usado para identificar danos nos nervos e alterações inflamatórias atribuíveis à neuropatia diabética, esclerose múltipla e fibromialgia.
No estudo foram analisadas quarenta pessoas que recuperaram da infeção confirmada por COVID-19, um e 6 meses antes. Os pacientes preencheram um questionário do Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (NICE) para descobrir se tinham “COVID longa”.
O questionário composto por 28 itens em nove domínios, incluindo sintomas generalizados, respiratórios, cardiovasculares, neurológicos, músculo-esqueléticos, psicológicos / psiquiátricos, gastrointestinais, dermatológicos e sintomas de ouvido, nariz e garganta, com pontuação total variando de 0 a 28.
Os investigadores verificaram que os sintomas neurológicos estavam presentes passadas 4 e 12 semanas em 22 de 40 pacientes, ou seja em 55%, e 13 de 29, ou seja em 45%, de pacientes.
As córneas dos participantes foram então analisadas com recurso a MCC para procurar pequenos danos nas fibras nervosas e na densidade das células dendríticas. Essas células têm um papel fundamental na resposta do sistema imunológico primário, capturando e apresentando antígenos de organismos invasores.
No exame as córneas foram comparadas com as de 30 pessoas saudáveis que não tiveram infeção por COVID-19.
Vinte e dois dos 40 pacientes com COVID não apresentavam sinais clínicos de pneumonia; 11 apresentavam sinais clínicos de pneumonia sem necessidade de oxigenoterapia; quatro foram internados com pneumonia e receberam oxigenoterapia; e três tinham sido internados em terapia intensiva.
Os exames da córnea revelaram que os pacientes com sintomas neurológicos passadas 4 semanas após terem recuperado da COVID-19 aguda tiveram maior dano e perda de fibras nervosas da córnea, com um maior número de células dendríticas, do que as pessoas que não tiveram infeção pela COVID-19.
Os pacientes sem sintomas neurológicos tinham um número comparável de fibras nervosas da córnea como os que não foram infetados com a COVID-19, mas um número maior de células dendríticas.
As respostas ao questionário indicativas de sintomas da “COVID longa” correlacionaram-se fortemente com a perda de fibras nervosas da córnea.
Os investigadores reconheceram que o estudo observacional apresentou várias limitações, incluindo o número relativamente baixo de participantes, a falta de monitoramento de longo prazo e a confiança a atribuir aos questionários para definir a gravidade dos sintomas neurológicos, em vez de serem usadas medidas mais objetivas.
“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo que relata a perda de nervo da córnea e um aumento na densidade (de células dendríticas) em pacientes que se recuperaram de COVID-19, especialmente em indivíduos com sintomas persistentes consistentes com “COVID longa”, escreveram os investigadores.
Os investigadores acrescentam: “Nós mostramos que os pacientes com ‘COVID longa’ têm evidências de pequenos danos das fibras nervosas que se relacionam com a gravidade da ‘COVID longa’ e sintomas neuropáticos e músculo-esqueléticos.”
“A microscopia confocal da córnea pode ter utilidade clínica como um teste oftálmico objetivo rápido para avaliar pacientes com “COVID longa”, concluem os investigadores.