Estudo recente aponta para uma prevalência de cerca de 10% da doença renal crónica na população portuguesa. Uma situação que leva as sociedades médicas e associação de doentes a apelarem para o reconhecimento da Doença Renal Crónica como prioridade de saúde pública.
“A Doença Renal Crónica deve ser incluída como uma prioridade de saúde pública, havendo uma necessidade urgente de enfrentar o seu impacto devastador e promover uma abordagem preventiva e de diagnóstico precoce, capaz de contribuir para melhorar a gestão das doenças não transmissíveis”. Um pedido que consta de uma declaração conjunta da Associação Portuguesa de Insuficientes Renais, Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e da Sociedade Portuguesa de Nefrologia.
As sociedades médicas e associação de doentes alertam para o impacto da Doença Renal Crónica, sobretudo tendo em conta os dados do estudo CaReMe CKD, que confirma que a elevada prevalência desta doença em Portugal – cerca de 10% – e reforça a necessidade de uma identificação precoce destes doentes.
Médicos e doentes em conjunto com a farmacêutica AstraZeneca alertam que a Doença Renal Crónica é atualmente a terceira causa de morte, e que está em crescimento mais rápido a nível global. É esperado que a doença se torne na quinta principal causa de perda de anos de vida, em todo o mundo, até 2040, com implicações económicas e de saúde de longo alcance para o doente.
Dados do relatório da análise à situação nacional feito pelo jornal “The Economist”, chamam a atenção para a ausência, no país, de um conjunto de diretrizes de tratamento das doenças renais crónicas, salientam que as que existem para deteção “são datadas e não estão alinhadas com as melhores práticas estabelecidas”. Acresce ainda, que Portugal não enfatiza estas doenças em nenhuma política de saúde, sendo “inconsistentes as práticas para a sua deteção e cuidados”.
O “The Economist” refere da necessidade de atualização dos registos nacionais, uma vez que o existente apenas recolhe dados sobre doentes nas fases finais da doença; da necessidade da atualização das infraestruturas de saúde digital, consideradas insuficientes, “o que limita os conhecimentos que os investigadores, médicos e decisores políticos têm para melhorar a deteção e os cuidados” com a doença, ou ainda da urgência de aumentar a sensibilização para a Doença Renal Crónica entre médicos de clínica geral e a população em geral, e salienta a falta de literacia nesta área. O relatório reforça que “sem um conhecimento mais generalizado, é difícil encorajar a realização de exames e a prevenção”.
O novo estudo, que avaliou a população de Matosinhos, aponta para uma prevalência desta doença na população portuguesa de 10%. O estudo RENA estima que mais de 20% da população que frequenta Cuidados de Saúde Primários apresente algum grau de doença renal crónica. E tendo em conta que existe uma relação entre a doença, diabetes e doenças cardiovasculares, “a criação de programas integrados para controlo de doenças não transmissíveis ao nível dos cuidados de saúde primários aumentariam ou fortaleceriam a identificação e intervenção precoces na Doença Renal Crónica”, uma vez que a deteção precoce da doença pode ajudar a reduzir o risco cardiovascular.
É por isso que pedem um aumento da sensibilização “sobre a prevenção, deteção precoce e gestão da Doença Renal Crónica nos grupos de alto risco, como pessoas que vivem com diabetes, hipertensão e/ou outras doenças cardiovasculares”, assim como o fortalecimento de “medidas políticas, legislativas e regulatórias, destinadas a promover a deteção precoce da Doença Renal Crónica e dos sistemas de saúde, “promovendo serviços de saúde primários integrados e centrados nas pessoas”.