Cientistas dos Laboratórios de investigação Greenpeace da Universidade de Exeter e do Instituto Ucraniano de Radiologia Agrícola colheram amostras de leite de vaca em quintas e proprietários particulares, na região de Rivne, a cerca de 200 quilómetros do local da explosão da Central Nuclear de Chernobyl, que ocorreu em 1986. Os cientistas verificaram que os níveis de césio radioativo no leite estavam acima do limite de segurança indicados na Ucrânia, que é para adultos de 100 Becquerel por litro (Bq / L) e para crianças de 40 Bq / L.
Os cientistas verificaram que em seis dos 14 locais estudados os níveis de césio estavam acima do limite para adultos, e em oito locais acima do limite para crianças. Os maiores níveis atingiram cerca de 500 Bq / L, ou seja cinco vezes acima do limite para adultos e mais de 12 vezes acima do limite para crianças.
“Mais de 30 anos depois do desastre de Chernobyl, as pessoas ainda são diariamente expostas a césio radioativo quando consomem alimentos básicos produzidos localmente, incluindo o leite, nas áreas da Ucrânia afetadas por Chernobyl”, referiu Iryna Labunska, dos Laboratórios de investigação Greenpeace da Universidade de Exeter.
A cientista explicou que nas áreas estudadas muitas pessoas possuem vacas de leite e que as crianças são as principais consumidoras desse leite, e que “mesmo que o nível de contaminação do solo nas áreas estudadas não seja extremamente alto, o césio radioativo continua a acumular-se no leite e em outros alimentos.”
“As populações das aldeias são cronicamente expostas a uma radioatividade que apresenta riscos para a saúde, para quase todos os órgãos do corpo, especialmente entre as crianças”, concluíram os investigadores.
Os investigadores indicaram que podem ser tomadas algumas medidas simples de proteção para reduzir os níveis de exposição à radiação, com um custo inferior a 10 euros por pessoa e por ano, para as 8.300 pessoas que vivem nas seis aldeias com maior contaminação.
As medidas incluem a aplicação de um ligante de césio, chamado Ferrocyn, fertilização mineral de campos de batata e alimentação de suínos com forragem não contaminada.
Os encargos com as medidas diminuiriam anualmente à medida que os níveis de radiação fossem decrescendo. Mas se nenhuma ação for tomada, os especialistas alertam que a contaminação do leite continuará a exceder o limite para os adultos que é de 100 Bq / L, em uns locais da Ucrânia, até pelo menos ao ano 2040.
Iryna Labunska referiu: “O governo ucraniano tomou algumas medidas no passado, mas as mesmas foram retiradas em 2009”, e acrescentou: “Deve ser realizada uma monitorização pelo governo e internacional, além de uma ajuda às pessoas afetadas por esta radiação.
“Esta situação também deve servir como aviso e alerta sobre quanto tempo pode permanecer um legado de acidentes nucleares”. Os cientistas indicam que “sem contramedidas adequadas, o que pode parecer agora um evento puramente histórico, permanece uma realidade diária para as comunidades mais afetadas.”
O estudo já foi publicado na revista Environment International, com o título “Current radiological situation in areas of Ukraine contaminated by the Chernobyl accident: Part 1. Human dietary exposure to Caesium-137 and possible mitigation measures.”