Uma invasão de mimosas (Acacia dealbata) ou acácias nas florestas ribeirinhas está a afetar as comunidades aquáticas, conclui uma investigação liderada pela Universidade de Coimbra (UC), tendo os resultados sido publicados na “Freshwater Biology”. A acácia, árvore exótica originária da Austrália, é uma das principais espécies invasoras na Região Centro de Portugal, especialmente na bacia do rio Mondego, onde ocupa já áreas significativas.
O mais recente relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços do Ecossistema aponta que a invasão por espécies exóticas é uma grave ameaça à biodiversidade e ao funcionamento dos ecossistemas.
Ora, “este estudo mostra que as invasões biológicas num ecossistema terrestre podem ter efeitos em ecossistemas adjacentes, como os ribeiros, pelo que é importante considerar a interdependência entre ecossistemas na avaliação dos efeitos destas invasões”, referiu Verónica Ferreira, investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), citada em comunicado.
A investigação concluiu que “a diversidade de microrganismos decompositores e de macroinvertebrados são mais baixas em ribeiros que atravessam acaciais, comparativamente a ribeiros associados a floresta de espécies nativas, muito em resultado da menor diversidade dos detritos vegetais que entram nos ribeiros em acacial e que são dominados por detritos de mimosa. Por outro lado, os ribeiros em floresta de espécies nativas recebem uma grande diversidade de detritos vegetais, resultado da maior diversidade de plantas”, referiu a investigadora.
Assim, alerta a investigadora: “Estas alterações na diversidade dos organismos aquáticos nos ribeiros em floresta invadida são preocupantes, uma vez que comunidades menos diversas estão menos preparadas para lidar com alterações ambientais que possam ocorrer, como as associadas a mudanças climáticas, e podem ser menos eficazes a desempenhar funções no ecossistema, como a reciclagem dos nutrientes”.
Uma opção para a difícil gestão de espécies invasoras na floresta ribeirinha, poderá passar por um controlo continuado nas zonas a montante dos ribeiros para dessa forma reduzir as sementes transportadas para as zonas mais a jusante, como referiu Verónica Ferreira: “A melhor opção é proteger as zonas ribeirinhas nas zonas altas das bacias hidrográficas, que estão geralmente em melhor estado de conservação, o que pode implicar a limitação do acesso humano e a monitorização contínua para eliminar presença de indivíduos de mimosa isolados”.
Para o estudo os investigadores da UC realizaram amostragens e medições mensais, ao longo de um ano, em seis ribeiros na Serra da Lousã, uma área grandemente invadida por mimosa, três ribeiros em floresta de espécies nativas e três ribeiros em floresta invadida por mimosa.
No estudo os investigadores constataram que de um modo geral, a invasão da acácia alterou a qualidade da água, a sazonalidade e a composição da serapilheira e as comunidades de decompositores aquáticos (especialmente os hifomicetos aquáticos). No entanto, os efeitos da acácia na densidade de macroinvertebrados e nas taxas de decomposição da serapilheira foram menos pronunciados, sugerindo que os níveis tróficos mais elevados podem ser mais resistentes à invasão do que os níveis basais, ou o tempo/extensão da invasão nos nossos riachos invadidos não foi forte o suficiente para afetar os macroinvertebrados e processos associados.
O estudo indica que os efeitos da acácia podem ser mitigados pela manutenção de um corredor ribeirinho composto por vegetação nativa. A proteção das galerias ribeirinhas não invadidas e a restauração das invadidas poderiam proteger e restaurar os ecossistemas ribeirinhos.
O estudo foi realizado no âmbito do projeto “EXSTREAM – Effects of EXotic tree species on STREAM communities and processes: the case of invasion of native forests by Acacia spp” e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
A coordenação foi da investigadora Verónica Ferreira, que contou com a colaboração do professor e investigador Albano Figueiredo do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Faculdade de Letras da UC (FLUC).