“Durante a campanha do referendo foi frequente ouvir-se o campo que defendia a saída da União Europeia pronunciar-se contra os avisos dos ‘experts’, isto é, dos especialistas, isto é, dos cientistas, ou porque estariam alegadamente a defender interesses obscuros ou porque pura e simplesmente os avisos não se enquadravam na narrativa que convinha”, começou por referir Carlos Moedas no ‘Ciência 2016’.
Carlos Moedas acrescentou que o impressionou o discurso dos que clamavam pela saída do Reino Unido da União Europeia, “porque vivemos numa época onde a tendência é precisamente a inversa, valorizamos cada vez mais a necessidade de fundamentar as decisões políticas em bases técnicas e científicas”.
“Ao apelar sistematicamente à rejeição da opinião de especialistas, fossem eles economistas ou cientistas, a campanha pela saída, como que apelava contra a própria ciência”, e acrescentou Carlos Moedas, “impressionou-me, também, porque cada vez mais a ciência transcende fronteiras e depende de colaborações que se estabelecem a uma escala global, no entanto, o apelo à saída da União Europeia era um apelo ao isolamento em detrimento da conetividade”.
O Comissário continuou o seu discurso dizendo: “O que vos proponho hoje é uma visão diametralmente oposta à que acabo de descrever, é uma visão de abertura da ciência dentro da União Europeia, é uma visão em que a ciência se cruza com a inovação, é uma visão de abertura da União em relação ao mundo”.
Referindo-se à investigação que conduziu à demonstração da teoria geral da relatividade de Albert Einstein disse: “O artigo que levou à deteção dessas ondas gravitacionais foi escrito por mais de mil autores de diferentes partes do mundo, em colaboração contínua, durante uma vida. O ponto de partida, a viagem e o ponto de chegada tinham sido muito diferentes do tempo de Einstein. A ciência de um só homem, de uma só Universidade, de um só país acabou!”.
O Comissário abordou a colaboração de várias perspetivas afirmando: “A ciência do presente, que de certa forma já é futuro, passará por elevar este grau de colaboração, a meu ver, a três aspetos muito concretos, a colaboração nas interseções das disciplinas, à abertura aos dados e às aplicações, o ‘open data’ e o ‘open access’ e o cidadão ao centro”.
Mas Carlos Moedas lembrou: “Hoje muitas vezes queremos programas, a que chamamos colaborativos, e pensamos que podemos impor aos cientistas, investigadores de várias disciplinas, que colaborem. A verdade é que muitas vezes apenas trabalham juntos, mas não colaboram, a colaboração é mais do que apresentar um projeto em conjunto”.