Se existe marca que operou uma revolução no mercado automóvel foi a TESLA ao criar o seu próprio mercado, diferenciando-se da concorrência em vários domínios.
A autonomia, outrora vista como um handicap torna-se nesta marca uma vantagem, sendo possível percorrer sem problemas perto de 500kms (autonomia declarada até 530km) mesmo com ar condicionado ligado, várias pessoas a bordo e algumas vezes abusando do pedal direito e do modo de condução (chili e sport)
A experiência do consumidor, desde o momento que se pretende adquirir o automóvel até ao momento do levantamento decorre quase toda por meios digitais. Sem descurar o atendimento em loja em que a informalidade e a jovialidade – ou não fosse o seu fundador americano – se apresentam como facilitadores da compra e totalmente focados no cliente. Não que as marcas “tradicionais” não o façam mas a TESLA recorre muito aos modelos americanos de relacionamento e isso nota-se.
Outro ponto interessante a salientar é o facto de a TESLA ter sido capaz de criar uma marca do zero, sem histórico e oferecer ao consumidor um ideal de automóvel, amigo do ambiente (existem aqui óbvias discussões sobre o tema, onde e como é produzida eletricidade, as baterias de lítio e reciclagem das mesmas), com uma qualidade de construção e materiais ainda não ao nível da melhor armada alemã mas que caminha para esse patamar. Mas o verdadeiro ponto diferenciador resulta na oferta de um ambiente todo ele personalizável e atualizável (muitas vezes com updates quinzenais) de melhorias que o consumidor deteta e que a marca incorpora de imediato no TESLA sem que o consumidor tenha de esperar pela nova versão do seu modelo de automóvel daqui a 2, 3 ou 4 anos. Este fator diferenciador opera uma revolução no sector automóvel que o obriga a reagir, pois hoje o digital não é moda mas é atualidade.
E este fator diferenciador permite ao consumidor, não mexendo no hardware, beneficiar das constantes atualizações de software, seja para aumentar a potência (mais 10km/hora velocidade – 260km/hora), melhorar o sistema de navegação, atualizar o autopilot (para sair e entrar em autoestrada), sistema automático de máximos, entre muitas outras alterações.
Curiosamente, costumamos ver a implementação de novidades no topo de gama que depois se generalizam para a gama mais baixa, sendo que aqui a marca realizou o inverso. O Model 3 surgiu com novos motores elétricos de magnetos permanentes, uma tecnologia que lhe permitiu ganhar peso, velocidade e (ainda) um melhor comportamento e eficiência, de tal modo que, para modelos semelhantes no S e X, nota-se a diferença, para melhor, no modelo em ensaio. As baterias além de mais eficientes ocupam um menor volume, pelo que não seria de admirar encontrarmos daqui a uns meses uma atualização a aumentar ainda mais a autonomia (por software) … assim os programadores atualizem o software.
O modelo de ensaio – Performance – um modelo que conta com melhores acelerações, dois motores que garantem tração integral e que vinha equipado com Track mode que tenta simular o autoblocante convencional, partilhando binário a cada roda e entre os eixos o que permite obviamente melhorar tempos por volta… em circuito e mesmo, controladamente, efetuar drifts.
Como qualquer love brand o que se pretende é a conquista do cliente final e, como sempre, existe quem o adore e quem lhe é indiferente. E é normal que tal aconteça. Nem o Model 3 é perfeito, nem qualquer automóvel o é. Este pretende, tal como outras marcas de smartphones ou de transporte de passageiros, criar seguidores fiéis e leais e isso é admirável.
Ora, depois de tanta consideração importa analisar o MODEL 3. Esteticamente segue a linha da marca. Uns consideram-na pouco ousada outros adoram-na. A cor vermelha Tesla é bastante mais onerosa mas dá vida a este modelo.
O ensaio foi realizado entre Lisboa e Algarve e, como tal resolvemos explorar ao máximo todo o conceito TESLA, seja em cidade, autoestrada e estradas nacionais.
A intuitividade com que tudo acontece é, no Tesla por demais evidente. Habituamo-nos ao ecrã central – por vezes distrator dada a panóplia de possibilidades que possui, nem que seja para utilizar o spotify – ainda bem, que a opção de visualizar vídeos não está disponível.
A posição de condução não merece reparos, os bancos acolhem-nos bem e “casam” com o volante e pedais. Habituamo-nos às diferenças deste modelo e assimilamos as mesmas. Percebemos que alguns (pequenos) detalhes podiam ter melhor qualidade de construção (isto se compararmos com os melhores alemães premium) mas não conseguimos descortinar qualquer erro de software no sistema nem os típicos bugs que, por vezes, surgem em modelos muito digitais e dependentes de software.
Em termos de conforto o modelo satisfaz plenamente. Podemos descortinar que o “pisar” da suspensão podia ser melhor isolado para o interior e mais suave – mas estamos aqui a comparar com os premium de topo. Num modelo em constante evolução é normal que estas situações ocorram e a vantagem é que a marca as corrige de imediato assim que são detetadas, como são exemplo, a determinadas velocidades um ligeiríssimo (é isso mesmo) ruído de vento proveniente das borrachas das portas dianteiras já detetado pela comunidade TESLA e que está para ser resolvido. Esta constante preocupação na total satisfação do consumidor faz da TESLA a love brand que é hoje.
Em todos os momentos do ensaio, o comportamento, conforto e qualidade de vida a bordo enaltece-se.
Resolvemos “atestar” – na nossa viagem Lisboa – Portimão, em Alcácer do Sal, para testar os superchargers e encontrámos uma autêntica armada da marca ali presente, onde a inovação contrasta com o tradicional café onde os “teslianos” (será que a palavra fica correta?) aguardam por breves minutos o carregamento que, é de tal modo intuitivo e rápido que permite tomar um café, fumar um cigarro, para quem ainda o utiliza e uma breve visita ao WC.
A aposta da marca nestes superchargers tem sido um sucesso e a prova disso mesmo são os funcionários do café que referem o aumento exponencial de clientes Tesla desde que a marca inaugurou ali os superchargers.
A viagem seguiu rumo ao Algarve e o que antes era vulgar – vários TESLA – começa a ser raro vislumbrar no Algarve, onde aqui se nota pelos transeuntes um misto de curiosidade face ao automóvel. Mais uma vez, a vontade dos passageiros é trocar o sol e a praia por passeios no TESLA, ainda por cima quando o teto em vidro filtra bem (embora o vidro fique bastante quente) os raios solares.
Ainda com bastante carga nas baterias o TESLA repousa da viagem mas o que podemos constatar foi que se trata de um modelo que permite grandes viagens, confortáveis e com qualidade de vida a bordo. Uma referência ao inovador sistema de AC que se opera no monitor e cujas inovadoras saídas de ar são ao longo de todo o painel frontal. Numa das paragens que fizemos para abastecer o TESLA no Algarve – Alcantarilha no Amendoeira Golf Resort cruzámo-nos com mais 1 condutor TESLA Model 3 e a conversa recaiu como seria normal no caminho que a TESLA está a desbravar e nos kms que ele já percorreu (primeira viagem Porto – Nice) e, sendo este cliente do Porto, a experiência que nos relatou foi de muitos kms ao volante sem qualquer problema de assinalar, sendo que, na última atualização o sistema por vezes desligava o carregamento a meio, algo que ele estava a solucionar com a marca. Curiosamente, em momento algum o vi como um Detrator ou Neutro com a marca mas sim como um profundo Prescritor da mesma (segundo a metodologia NPS – Net Promoter Score). Enalteceu as atualizações constantes, a qualidade de construção, a fiabilidade, a autonomia e mostrou-se descontente com o tal ruído proveniente das borrachas dos vidros dianteiros que por vezes não isolam convenientemente e gostaria que o sistema de abertura das portas fosse mais intuitivo.
A viagem de retorno foi muito idêntica à viagem para o Algarve, mas nesta deu para melhor entender o Model 3, pela curva de experiência já existente e face ao retorno dos vários feedbacks recebidos. Não existe um perfil tipo do modelo – desde jovens a menos jovens (este prescritor teria 70 anos) – mas todos com quem conversei, conhecem e acompanham as evoluções diárias da TESLA. Um caso de sucesso nesta marca que nasceu há tão pouco tempo. Com uma autonomia até 530km, mesmo com AC ligado, várias pessoas a bordo e velocidades normais de AE. Intuitivo, confortável, bom comportamento e bom espaço interior. O ecrã central faz a diferença e contrariamente à viagem inicial já não o utilizamos tanto – somente os mapas e o Spotify, num sistema muito user-friendly. Algumas notas de entusiastas da marca que gostavam de um design mais arrojado, outros que o acharam adequado pois era minimalista. Em resumo, não é indiferente na estrada e nas ruas por onde passa.
Preço final: 71.300€ (para empresas perto de 58.000€) + 2.700 cor Multi Cot Red, track mode disponível, JLL de 20” de série (opção Enhanced Autopilot – 5400 euros), num modelo com 5 estrelas nos testes EURONCAP
Autor: Jorge Farromba