Uma viagem do Mercedes C220Cdi com 170cv de 2008 ao Honda Civic com 120Cv de 2018
Num ensaio automóvel importa sempre compreender a viatura que temos em mãos, o segmento onde se insere, a concorrência onde se intromete e mais alguns fatores. Nos dias de hoje, com o desenvolvimento da indústria automóvel, com sinergias entre marcas, com padronização e normas mundiais, não há automóveis menos bons que outros, dado que quase todos se aproximam e, isso deve-se também muito aos comparativos que cada marca faz à sua concorrência direta e ao desenvolvimento que diariamente existe neste setor muito permissivo à inovação.
Hoje em dia, os automóveis distinguem-se no posicionamento que pretendem incutir ao cliente, no relacionamento que a marca estabelece com o cliente (desde a pré-venda até ao pós-venda). Muitas vezes, são os detalhes (uma revisão mais cara e não explicada ao cliente, um serviço menos conseguido na oficina, a ausência de contacto regular com o cliente, uma avaria recorrente, etc.) que o faz redirecionar para outra marca. Criar um relacionamento é hoje o toque de midas de qualquer marca. E, no caso presente da Honda, esta relação única com o cliente tem conseguido perpetuar-se ao longo dos anos com clientes fieis à marca (mesmo quando o design é irreverente, como é o caso) mas também quando a marca quer apostar em novos mercados e públicos, com a intromissão direta com os habituais players.
Passar de uma viatura como o C220 Cdi com tração traseira e 170 Cv para um tração dianteira com 120Cv é também um exercício diferente. O comportamento é diferente, as reações são distintas, a sub ou sobreviragem acontecem em momentos distintos. Já para não falar do binário que, no Civic é menos notório face ao C ou na entrega de potência.
Mas, é curioso o patamar evolutivo de uma marca face a um premium (mesmo de 2008). As marcas souberam entender muito bem o que o consumidor (cliente) pretende e aplicar isso nos seus modelos.
A Honda sempre nos caracterizou por alguma irreverência em cada novo lançamento e este não foi diferente. O Honda CIVIC é um automóvel que desperta a atenção exterior pelas linhas mais desportivas que incorporou, mesmo sendo um familiar. Certamente, existem admiradores confessos e outros que, não gostaram da ousadia da marca. Mas o resultado final convence, em minha opinião. Já no interior, a marca optou por um desenho mais consensual e encontramos aqui materiais de boa qualidade (impensável hoje uma viatura deste segmento não ter plásticos moles um pouco por todo o habitáculo), com uma qualidade de montagem de muito bom nível. O espaço interior é folgado, seja à frente como nos bancos traseiros e a bagageira (sem pneu suplente) remete para o familiar que é. Ergonomia de bom nível, um painel de instrumentos prático e completo (muito legível) com toda a informação necessária, muito software presente no domínio da segurança, um ecrã central com quase toda a informação sobre a viatura (podia ser mais intuitivo), uma posição de condução muito perto da ideal, com um volante de excelente pega e diâmetro. Encontrar a posição de condução ideal é, neste modelo, fácil.
Em termos dinâmicos, o CIVIC disfarça muito bem o som emanado do diesel, ajudado por uma caixa de velocidades de curso curto, rápida e precisa. Mesmo mantendo os mesmos 120Cv do modelo anterior, o novo motor 1.6 diesel é bastante mais ágil e “desportivo” que o anterior. O CIVIC convida a andamentos vivos e a sua linearidade é muita interessante. Para ajudar este motor, encontramos um chassis muito bem desenhado, com uma direção (elétrica) precisa e direta e um comportamento em curva digno de realce. É muito difícil este modelo perder a compostura. Não são somente os pneus e a sua largura os responsáveis mas também o chassis e suspensões. O conforto “alemão” associa-se, por isso, ao comportamento atrás mencionado, onde a suspensão mais rija, não significa de todo um menor conforto do modelo, muito pelo contrário. O modo como filtra as irregularidades é bem conseguido.
E afinal onde fica a viagem do C220 com 170Cv para o Civic de 120Cv? São obviamente modelos diferentes, com processos construtivos diferentes, de segmentos diferentes, com abordagens técnicas distintas mas onde é um prazer imenso revisitar (e compreender diferenças entre modelos) com motor, direção e tração no mesmo eixo e verificar a solidez da solução, o encanto da condução, a sedução do comportamento que certamente vai colocar a armada alemã, do mesmo segmento, em estado de alerta, pois não foi certamente um acaso este automóvel ter batido records em Nurburbring.
O consumo do modelo foi sempre próximo dos 5,3 litros e com bastante empenho perto dos 6.0 litros num modelo que se “veste” em três níveis: Confort, elegance e executive
A partir de 23.300€ na versão 1.0 gasolina e dos 27.300€ no 1.6 diesel com o nível mais baixo (Comfort)
Alguns dos equipamentos de segurança presentes na unidade ensaiada: Assistência ao Arranque em Subida; Sistema de Travagem Atenuante de Colisões (CMBS); Avisador de Colisão à Frente (FCW), Sistema de Assistência à manutenção na faixa de rodagem (LKAS), Avisador de Saída de Faixa (LDW), Sistema Atenuante de Saída de Estrada (RDM), Limitador Inteligente da Velocidade, Controlo da Velocidade de Cruzeiro Adaptável Inteligente (i-ACC), Reconhecimento de Sinalização de Transito (TSR), Função de seguimento a baixa velocidade (Low Speed Following),Informação de Ângulo Morto (BIS), incluindo Monitor de trânsito lateral.