Criado do zero e não fruto de uma profunda remodelação, o CIVIC demarca-se no trânsito, não somente pelas suas dimensões – maiores que o anterior – mas fundamentalmente pela estética, que alguns adoram e outros nem tanto. Talvez a explicação possa passar pela tentativa da marca em alargar o seu espetro de seguidores a um público mais jovem e irreverente.
Se é certo que o CIVIC não é esteticamente consensual, a realidade mostra-nos que se aprende a gostar do mesmo. E, se “vive” de uma estética onde sobressaem os ângulos vincados, o para-choques assumidamente imponente e, em preto, as tomadas de ar anteriores e posteriores (fechadas), as jantes, molduras dos espelhos retrovisores, o defletor e spoiler posterior que contrastam com o vermelho da carroçaria na viatura de ensaio, acabam por transmitir um dinamismo e, porque não desportividade, assumida pela marca.
O interior, pelo contrário, mantém um ambiente e estilo moderno mas tradicional, transversal a todos os modelos da gama, com uma qualidade de construção de bom nível, o recurso a plásticos moles (não na totalidade do habitáculo) e uma montagem de bom nível. À frente do condutor surge o painel de instrumentos “tradicional” com toda a informação relevante, um volante com uma pega muito boa – e que “casa” muito bem com a posição de condução, os pedais, os bancos e a alavanca da caixa de velocidades. Ao centro, um monitor sensível ao toque com a maior parte da informação disponível no mesmo, estando a climatização presente num botão inferior ao ecrã central onde também pontua o sistema de aquecimento dos bancos.
O espaço interior, tanto na parte dianteira como posterior é de bom nível – nesta versão contávamos com bancos em pele que aumenta, por si, a perceção de qualidade. A bagageira já de bom nível para 5 pessoas, aumenta pela não presença da roda suplente (com o vão a ser forrado integralmente a alcatifa).
A noção que temos é que é necessário um “bom” motor, com grande capacidade para fazer deslocar a viatura e, a primeira desconfiança quando nos sentamos ao volante deste CIVIC pela primeira vez é essa mesma. Depois de dar à chave não se desconfia do tricilindrico, nem pelo típico ruído nem pelas vibrações. E, é logo nos primeiros metros que todas as dúvidas desaparecem. Os 129CV são de facto mais que suficientes e parecem ser mais Cv, o que ajudados por uma bem escalonada e precisa caixa de velocidades transfigura pela positiva esta versão. Torna-se fácil atingir muito facilmente o limite de rotações até à 4ª velocidade mas o que surpreende, além desta voracidade em atingir sempre o seu limite, é o modo competente como o faz. Ou seja, andar em frente, mal ou bem, qualquer motor o faz mas é na hora de curvar que se percebe também o trabalho que os engenheiros da marca fizeram (ou não) em prol do comportamento. E aqui, uma palavra de reconhecimento pelo enorme trabalho desenvolvido da anterior geração para esta do CIVIC. A direção precisa e direta permite-nos apontar para a curva milimetricamente e o chassis acompanhar esta mudança de forma muito eficaz. Se, com este pequeno motor nos apetece andar em frente, depois das primeiras curvas com ele, o que se pretende mesmo é uma estrada com curvas encadeadas, pois o CIVIC devora curvas com uma competência surpreendente. E, se isto é com 129Cv imagine-se com as versões mais poderosas, o que denota que este chassis está preparado para outros voos. O conforto – alemão – está presente e é algo que gosto, rijo q.b. mas suficientemente macio para nos transportar em cidade e estrada.
E, a pergunta que se impõe é para quem foi feito este automóvel. Um exercício que faço, muitas vezes enquanto espero pela entrega (ou na recolha) da viatura de imprensa é conhecer o público que o utiliza. E factualmente, vejo e ouço os dois públicos, o mais jovem e o sénior a utilizar este modelo. Sem qualquer análise científica diria que uns cativados pela desportividade e desenho out-the box, coadjuvado pela publicidade que a Honda fez das afinações do modelo em Nurburbring (e ainda bem) e outro público, que se mantém fiel a uma marca pela fiabilidade, baixo custo de manutenção.
Um detalhe que, para o ensaio de nada serve, mas que importa referir. Numa era em que a experiência do cliente é de uma importância extrema, a preocupação patente da Honda nesse domínio, com um sistema NPS (Net Promoter Score) de satisfação do cliente (onde somente o 9 e 10 da escala contam positivo, são leais, oferecem feedbacks positivos e estão entusiasmados com a marca) e para um elevado conjunto de preciosos detalhes, desde que chegamos à marca, até ao momento de sair.
Ah, falta o preço e os consumos. Confesso que não me preocupei muito com os consumos e, por isso, surgiam perto dos 8litros – gasolina – sempre que se explorava o motor na sua plenitude mas, moderado o pé direito os valores baixaram para uns comedidos 6,2 litros aos 100km. O preço começa nos 23.825€ até 31.350€ (versão ensaiada – 28.300€ onde não falta o sistema de navegação, bancos em pele aquecidos, aviso de ângulo motor; sistema de aviso de colisão, sistema de assistência à saída involuntária da faixa de rodagem, reconhecimento de sinais de trânsito).