O espetáculo “Ensaio dos Abutres”, uma criação original da Peripécia Teatro e que resulta de uma coprodução com a ONGA Palombar estreia a 25 de setembro no espaço A Cena. em Vila Real. O espetáculo pretende sensibilizar a comunidade para a preservação das aves necrófagas
O “Ensaio dos Abutres” resulta de um desafio lançado à companhia pela Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, uma Organização não Governamental de Ambiente (ONGA) que desenvolve vários projetos de conservação das aves necrófagas com uma componente de sensibilização da comunidade para a importância ecológica vital destas espécies e para as várias ameaças que estas enfrentam. O repto, que vai ao encontro das linhas orientadoras da programação artística e às preocupações ambientais da Peripécia Teatro, foi aceite pelos criadores e intérpretes Sérgio Agostinho e Noelia Domínguez.
Com direção de Luís Blat – que tem vindo a desenvolver projetos em Portugal e Espanha, tendo sido, recentemente, assistente de encenação numa coprodução entre o Festival de Avignon e o Teatro de la Abadia (Madrid). A obra “Ensaio dos Abutres” foi concebida através de um processo que começou pelo estudo das aves (na sua vertente científica e histórica), evoluindo para a experimentação e pesquisa cénicas.
O espetáculo recorre a múltiplas linguagens – narração verbal, física e até momentos musicais –, sendo construído a partir de textos de autores como Baudelaire, David Abram ou Niall Binns, assim como de excertos da Bíblia. No processo criativo, a música desempenha um papel determinante e é interpretada ao vivo por dois multi-instrumentistas: Vitor Hugo Ribeiro e Tiago Santos.
A peça convida o espectador a questionar a legitimidade das conotações negativas associadas aos abutres, relembrando a sua importância no ecossistema e o seu legado histórico, quando eram encarados como aves de bom presságio, com acesso direto aos deuses. Como refere Luis Blat, “os comportamentos daquelas aves podem ajudar a espécie humana a aprender a respeitar os que nos são mais próximos, a cuidar da nossa família e a preservar o nosso meio ambiente”. Com uma linguagem contemporânea e bem-humorada, o público é convidado a refletir também sobre os medos ancestrais à morte e como um aparente fim pode, afinal, ser um recomeço.
O “Ensaio dos Abutres” vai estar em cena no espaço A Cena – localizado no antigo quartel da Associação Humanitária Bombeiros Cruz Branca, Rua D. Margarida de Chaves, nº 63, em Vila Real –, nos dias nos dias 25 e 26 de setembro, às 21h30, 27 de setembro, às 18h30, 2 e 3 de outubro, às 21h30 e dia 4 de outubro, às 18h30. O preço dos bilhetes é de cinco euros e podem ser adquiridos na plataforma BOL: peripeciateatro.bol.pt.
Após a temporada em Vila Real, o espetáculo entra em digressão, com apresentações no Fundão a 9 de outubro, Caminha a 10 de outubro, Sabrosa a 30 de outubro, Palmela nos dias 5 e 6 de dezembro, Bragança nos dias 22 e 23 de janeiro e Tondela a 12 de fevereiro.
População de abutres na Península Ibérica
A Península Ibérica alberga mais de 90% das populações de abutres na Europa e tem, por isso, uma importância vital para a conservação destas espécies. Portugal e Espanha possuem habitats únicos que asseguram os requisitos ecológicos das espécies de abutres europeus, quer sejam nidificantes estivais, como o britango, quer sejam residentes, como o abutre-preto.
Em Portugal, é na faixa transfronteiriça com Espanha onde se concentra a maioria das colónias de abutres. Nas regiões limítrofes entre os dois países, os abutres transpõem barreiras geopolíticas e encontram os ecossistemas que se estendem num espaço além-fronteiras e que garantem a sua sobrevivência, numa geografia marcada por arribas, montanhas, escarpas, rios, reduzida ocupação humana e agricultura e pecuária extensivas.
O “Ensaio dos Abutres” foi concebido no âmbito do projeto “Sentinelas” da Palombar, que tem como parceira a Universidade de Oviedo, em Espanha, e é financiado pelo Fundo Ambiental – Ministério do Ambiente e da Transição Energética. Este projeto visa criar uma rede de espécies-sentinelas que possibilite obter informação sobre o uso ilegal de venenos no norte de Portugal, e outras formas de furtivismo, os quais representam um sério problema para a conservação da biodiversidade, dos ecossistemas e para a saúde pública.