Como é que o sistema imunitário responde ao fungo “Aspergillus fumigatus”? Esta questão encontra uma abordagem no estudo, publicado hoje na revista “Nature”, que envolveu uma equipa internacional de investigadores que incluiu investigadores do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho (UMinho).
Os investigadores sabem que “a resistência a uma infeção é criticamente dependente da capacidade dos recetores de reconhecimento de padrões reconhecer a invasão microbiana e induzir respostas imunes protetoras. Uma dessas famílias de recetores são as lectinas do tipo C, que são fundamentais para a imunidade antifúngica.”
A equipa internacional, liderada pelo MRC Center for Medical Mycology da Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, descobriu um mecanismo de resposta imunitária a um componente “inesperado” do fungo. Isto é, identificou um recetor de lectina do tipo C que reconhece um pigmento específico do fungo chamado melanina.
O trabalho dos investigadores em Portugal, coordenado pelo ICVS, permitiu identificar mutações no recetor que aumentam o risco de contrair infeções em cerca de 25% dos doentes submetidos a transplante. Os investigadores consideram que esta descoberta poderá contribuir “para o desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico e terapias personalizadas para combater esta infeção.”
A infeção causada por este micro-organismo é uma das complicações que mais preocupa os doentes quando submetidos a tratamentos médicos complexos, como transplante de medula, dado que leva à morte em 50% dos casos. Os investigadores Agostinho Carvalho e Cristina Cunha, do ICVS da UMinho, indicam que o fungo pode ser “responsável por uma série de doenças pulmonares, incluindo a asma, que afetam milhões de pessoas em todo o mundo.”
Agostinho Carvalho explicou: “Respiramos diariamente centenas de esporos deste fungo, embora sem consequências graves. No entanto, em situações de debilidade do sistema imunitário esta infeção é fatal na maioria dos casos.”
A investigação desenvolvida “permitiu melhorar o conhecimento sobre como o nosso sistema imunitário responde a este micro-organismo, sendo esta informação crucial para melhorar a capacidade de diagnosticar a sua presença em pessoas infetadas e conceber novas terapias capazes de ajudar no tratamento desta doença complexa”, indicou o investigador.
A equipa de investigação considera que “a descoberta poderá ajudar na luta contra um fungo que mata 200 mil pessoas por ano e provoca doenças pulmonares e alérgicas em milhões de outras.”
No trabalho de investigação estiveram também envolvidos o National Institute of Allergy and Infectious Diseases, o National Institutes of Health, ambos dos EUA, o Instituto Pasteur, de França, o Imperial College London, no Reino Unido, a Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, o Centro Médico da Universidade Radboud, na Holanda e, em Portugal o Instituto Português de Oncologia do Porto e o Hospital Universitário de Santa Maria da Universidade de Lisboa.