Cientistas desenvolveram um exame ao sangue ‘três-em-um’ que poderá transformar o tratamento do cancro avançado da próstata com recurso a fármacos de precisão projetados para atingir as mutações nos genes BRCA.
Ao examinar o ADN do cancro na corrente sanguínea, os investigadores descobriram que poderiam escolher quais homens com cancro avançado da próstata que provavelmente beneficiam com o tratamento com novos fármacos, designados inibidores de PARP (Poly_ADP_ribose_polymerase).
Os investigadores utilizam o exame para analisar o ADN no sangue no início do tratamento, para selecionar as pessoas a serem submetidas a tratamento, e utilizaram o mesmo exame para monitorar o sangue de um paciente ao longo do tratamento, de forma que a cada passo pudesse serem avaliados os sinais da evolução genética do cancro, ou se o cancro está a tornar-se resistente aos fármacos.
Os investigadores do The Institute of Cancer Research, Londres e o The Royal Marsden NHS Foundation Trust, indicam que se trata do primeiro tipo de exame ao sangue desenvolvido para uma terapia precisa do cancro da próstata orientado para falhas genéticas específicas dentro de tumores.
Os cientistas consideram que no futuro, o exame do sangue irá permitir que o inibidor de PARP olaparib se torne um tratamento padrão para o cancro avançado da próstata. O exame ao sangue determina quais os homens mais propensos a retirarem daí os benefícios.
O estudo que foi publicado, em 19 de junho, na revista científica ‘Cancer Discovery’, teve o apoio financeiro da Prostate Cancer Foundation, Prostate Cancer UK, Movember, Cancer Research UK e do National Institute for Health Research (NIHR), através do Experimental Cancer Medicine Centre network, e do NIHR Biomedical Research Centre do The Royal Marsden e do Institute of Cancer Research (ICR).
O estudo indica que o novo exame ao sangue poderá ajudar a prolongar ou a salvar vidas, ao possibilitar um tratamento mais eficaz, e ao mesmo tempo reduzir os efeitos colaterais do tratamento e assegurar que os pacientes não recebam medicamentos que não são suscetíveis de assegurar melhorias na saúde.
Os investigadores puderam identificar as mutações genéticas que os cancros da próstata usam para resistir ao tratamento com olaparib. O exame ao sangue pode potencialmente ser adaptado para monitorar o tratamento com inibidores de PARP em outros tipos de cancro.
Para o desenvolvimento do estudo, os investigadores do ICR e do The Royal Marsden recolheram amostras de sangue de 49 homens no The Royal Marsden com cancro avançado da próstata inscritos no ensaio clínico de fase 2 de TOPARP-A de olaparib.
O olaparib é um fármaco eficaz em matar células cancerosas que têm mutações em genes que desempenham um papel na reparação de ADN danificado, como os BRCA1 ou os BRCA2. Alguns pacientes respondem ao medicamento, mas noutros o tratamento falhou precocemente, com o cancro a evoluir para resistência ao fármaco.
Com base nos resultados do exame ao sangue os investigadores descobriram que os pacientes que responderam ao fármaco apresentaram uma queda média nos níveis de ADN circulante no sangue de 49,6%, após apenas oito semanas de tratamento, ao passo que os níveis de ADN do cancro aumentaram em média 2,1% nos pacientes que não responderam ao tratamento.
Os homens em que os níveis sanguíneos de ADN diminuíram nas oito semanas após o tratamento sobreviveram em média 17 meses, em comparação com apenas uma média de 10,1 meses de sobrevivência dos homens em que os níveis de ADN do cancro permaneceram elevados.
Os investigadores também realizaram um exame detalhado das mudanças genéticas que ocorreram no ADN do cancro de pacientes que deixaram de responder ao olaparib, e descobriram que as células cancerosas adquiriram novas mudanças genéticas que cancelaram as mutações originais na reparação do ADN, particularmente nos genes BRCA2 e PALB2.
Johann de Bono, do Cancer Research no The Institute of Cancer Research, de Londres, referiu que “o estudo identifica, pela primeira vez, mudanças genéticas que permitem que células do cancro da próstata se tornem resistentes à medicina de precisão olaparib.”
Com base nas descobertas feitas, o investigador refere que foi possível “desenvolver um teste poderoso, ‘três-em-um’, que poderá, no futuro, ser usado para ajudar os médicos a selecionar o tratamento e a verificar se está a funcionar, monitorizando o cancro ao longo tempo de tratamento. Isto permite tomar decisões clínicas sobre se um inibidor de PARP está a funcionar no espaço de tempo de apenas quatro a oito semanas após o início da terapia.”
Para Johann de Bono o exame ao sangue “pode ter um grande impacto no tratamento do cancro da próstata, mas também pode ser adaptado para abrir a possibilidade de medicamentos de precisão para pacientes com outros tipos de cancro”.
Paul Workman, diretor executivo do Institute of Cancer Research, em Londres, indicou que “os exames de sangue para o cancro prometem ser verdadeiramente revolucionários. São baratos e fáceis de usar, mas, o mais importante, dado que não são invasivos, podem ser usados ou aplicados para monitorar rotineiramente os pacientes, e para detetar mais cedo se o tratamento está a falhar, oferecendo aos pacientes uma maior possibilidade de sobreviver à doença.”
O investigador acrescentou que “o novo exame é multiuso, projetado para ser usado antes e depois do tratamento, e usa as quantidades absolutas de ADN do cancro na corrente sanguínea e também uma leitura das mutações específicas dentro desse material genético.”
Por isso Paul Workman acredita que se está a “inaugurar uma nova era de medicina de precisão para cancro da próstata”.
David Cunningham, outro dos investigadores envolvidos no estudo, diretor de investigação clínica do Royal Marsden NHS Foundation Trust, referiu que “é outro exemplo importante em que as biópsias líquidas, um exame de sangue simples, em oposição a uma biópsia invasiva de tecido, podem ser usadas para direcionar e melhorar o tratamento de pacientes com cancro”.
Para melhorar significativamente as hipóteses de sobrevivência dos 47.000 homens diagnosticados anualmente com cancro de próstata é preciso recorrer a métodos de tratamento mais direcionados em vez do uso dos modelos únicos, indicou Matthew Hobbs, Diretor Adjunto de investigação do Prostate Cancer UK.
O investigador acrescentou ainda que “há muito mais a entender antes dos potencialmente enormes benefícios do tratamento de precisão sejam generalizados para cancro da próstata e atinjam os pacientes em todo o Reino Unido.”