Encontra-se provado que o índice de massa corporal (IMC) mais elevado do que o normal leva a doenças cardiovasculares, a partir da meia-idade. Agora os investigadores estudaram a efeito da IMC em adultos jovens, aparentemente saudáveis.
O estudo apresentado na conferência anual da Sociedade Europeia de Genética Humana, no dia 28 de maio, em Copenhaga, na Dinamarca, veio mostrar que um IMC mais elevado pode causar problemas de saúde cardiovascular em pessoas jovens com idade de 17 anos.
Kaitlin Wade, investigadora associada da Unidade de Epidemiologia Integrativa do Medical Research Council (MRC) da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e uma equipa de investigadores utilizou dados do Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC), para investigar a potencial relação entre o aumento do IMC e a saúde cardiovascular.
“ALSPAC é um estudo líder mundial de coorte de nascimentos, iniciado no início na década de 1990 e incluiu mais de 14.000 mulheres grávidas, os parceiros e os filhos. O estudo oferece uma excelente oportunidade para analisar as contribuições ambientais e genéticas para a saúde e para o desenvolvimento de uma pessoa”, referiu a investigadora.
Os investigadores partiram da hipótese do risco cardiovascular, devido ao aumento do IMC, começar ainda numa idade menor do que até agora tem vindo a ser considerada. A atual conceção dos estudos observacionais, que apenas procuram associações na população, tem sido incapaz de fazer uma distinção entre correlação e causa.
No desenvolvimento do estudo divulgado na conferência, os investigadores contaram com a Unidade de Epidemiologia Integrativa do MRC, que se especializou no uso da genética para ajudar nas difíceis situações analíticas. Os investigadores tiveram desta forma capacidade para utilizar dados genómicos do ALSPAC e assim detetar a provável relação causal entre um maior IMC, uma maior pressão arterial e um índice de massa ventricular esquerda (IMV), nas pessoas dentro a faixa etária dos 17 aos 21 anos.
Os investigadores sabem que um marcador comum para a doença cardíaca é uma maior espessura das paredes do ventrículo esquerdo do coração, ou hipertrofia, o que leva a que o coração tenha de fazer um maior esforço para bombear o sangue.
Kaitlin Wade referiu que os resultados do estudo “mostram o impacto do aumento do IMC sobre o débito cardíaco”, dado que o débito “foi impulsionado apenas pelo volume de sangue bombeado pelo ventrículo esquerdo (volume sistólico), o que em parte, pode explicar o efeito motivado por um maior IMC na hipertrofia cardíaca”.
Os resultados do estudo vêm apoiar os esforços para combater a epidemia de obesidade desde uma idade precoce, e assim prevenir o desenvolvimento de alterações cardiovasculares conhecidas como precursoras de doenças cardiovasculares e de outras doenças.
Os investigadores estão agora a tentar desvendar a relação entre um maior IMC e os mecanismos de doenças, incluindo a metabolómica (o estudo dos processos químicos envolvidos no funcionamento das células e a abundância e diversidade de micróbios que vivem no intestino – o microbiome intestinal).
Kaitlin Wade esclareceu que foi dado início a uma análise mais detalhada sobre o papel de um maior IMC na estrutura cardíaca, bem como continuar a explorar esta associação na população mais velha.
Embora os ensaios controlados sejam importantes para desencadear a causa e efeito da doença, são caros, demorados e intensivos em mão-de-obra. “A genómica moderna permite detetar a causalidade de forma mais rápida e barata”, e neste caso “a disponibilidade de grandes quantidades de dados genéticos significa que é possível superar as limitações de estudos epidemiológicos observacionais”.
Para a investigadora há “mensagens claras sobre a saúde cardiovascular nas descobertas já feitas”, e estas descobertas “podem levar a maiores esforços para combater a obesidade desde o início da vida “.
Joris Veltman, diretor do Instituto de Medicina Genética da Newcastle University, no Reino Unido, referiu que é difícil distinguir entre correlação e causalidade nas ciências médicas, especialmente em interações complexas, como as que ocorrem entre a obesidade. Mas agora os cientistas puderam demonstrar que a obesidade também provoca menor saúde cardiovascular nos adultos jovens.