Na primavera de 1957 foi publicada a crónica romanceada ‘A Casa Grande de Romarigães’, um dos livros mais marcantes da literatura portuguesa do século XX. Tudo se inicia com “a eclosão da floresta através da fábula do vento, do gaio, do pinhão e da bolota, são desse ponto de vista inesquecíveis” (Maria Alzira Seixo, 1985):
“A bolota taluda ficara ali muito quieta, muito bem refastelada em virtude do próprio peso, enterrada que nem pelouro da batalha depois de passarem carros e carretas. Que fazer senão deitar-se a dormir?! Dormiu uma hora ou uma vida inteira, quem o sabe?! Um laparoto veio lá de cascos de rolha, rapou a terra, fez um toural, aliviou-se, e ela ficou por baixo, sufocada sem poder respirar, em plena escuridão. Estava no fim do fim? Um belisco, e do seu flanco saiu como uma flecha. Era de luz ou de vida? Era uma fonte ou antes um cântico de ave, de água corrente, de vagem a estalar com o sol, dum insecto na sua primeira manhã, música trilada da terra ou das esferas? Era tudo isto, encarnado no fogo incomburente que lhe lavrava no flanco. Verbo que acabou por irradiar do próprio mistério do seu ser” (Capítulo I).
‘A Casa Grande de Romarigães’ pela sua intensa força literária marca sentimentalmente um território que em si mesmo representa e identifica uma região do interior de Portugal, com características distintivamente rurais. Sobre a marca física de uma quinta – a Quinta do Amparo – incide a capacidade criadora do escritor e do seu romance histórico. Da obra emana um espírito, uma intensidade tão forte que a presença física do sítio se revê nas evocações do texto e na memória dos feitos que ali terão ocorrido. Uma trama ficcional, a que todo o romance obedece, ajusta-se fielmente à geografia física e humana que lhe serviu de cenário.
Que legado literário nos oferece essa obra-prima de escrita e de enredo chamada ‘A Casa Grande de Romarigães’? Que papel poderá assumir a Quinta do Amparo e a sua enorme teia ficcional no contexto de Paredes de Coura? Como se poderá captar a narrativa secreta e mágica que continua subjacente na atmosfera de Romarigães e valorizá-la num projeto de dinamização de todo o concelho de Paredes de Coura?
Destas questões decorre a ideia de que apesar da atmosfera da Quinta do Amparo e da sua dimensão literária continuarem bem vivas para aqueles que visitem o local, haverá certamente uma oportunidade de o reinventar no quadro de uma estratégia territorial mais consistente e integrada para o concelho de Paredes de Coura, o que representaria, em última análise, uma homenagem a Aquilino Ribeiro e um importante contributo para a preservação do seu extraordinário legado literário.
Programa
15:00 – O Legado Literário de ‘A Casa Grande de Romarigães’
Serafina Martins (Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa)
Mário Cláudio e Mário de Carvalho
16:15 – Intervalo
16:30 – O Território Literário da Casa Grande de Romarigães, a sua importância como promoção do turismo cultural em Paredes de Coura
com
Vitor Paulo Pereira (Presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura),
Aquilino Machado (IGOT, Universidade Lisboa)
Fernando João Moreira (ESHTE/ESHT-IPPorto).
Moderação de Francisco Roque de Oliveira (CEG – IGOT, Universidade de Lisboa)