Os cirurgiões recorrem muitas vezes a um vaso sanguíneo da perna do paciente para enxerto coronário, numa cirurgia de revascularização do miocárdio. Mas esta solução leva à criação de cicatrizes em muitos pacientes. As cicatrizes podem por sua vez levar à ocorrência de outro ataque cardíaco. Agora uma nova técnica pode ajudar a evitar este problema, indica a Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (UNCT).
Na cirurgia de revascularização do miocárdio é frequentemente usada uma veia da perna para ser enxertada em torno da zona bloqueada perto do coração. No entanto, esta técnica leva muitas vezes à formação de tecido cicatricial. Esta cicatriz pode causar mais bloqueios e levar a outro ataque cardíaco.
Investigadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia desenvolveram uma nova técnica, para extrair o vaso sanguíneo da perna, que mostra uma redução no crescimento de tecido cicatricial problemático.
Angina e ataques cardíacos ocorrem quando os vasos que fornecem o sangue ao coração são obstruídos com placas. Nalguns casos, o bloqueio não pode ser removido, e cirurgia de revascularização coronária é a solução adotada, descreve a UNCT.
A solução passa por um ‘bypass’ coronário que envolve o recurso a uma veia saudável de outra parte do corpo, frequentemente uma das grandes veias do interior da perna, e ‘costurá-la’ em torno da artéria bloqueada. O designado enxerto.
No entanto, existe o risco do enxerto também ficar bloqueado devido sobretudo à cicatrização causada por dano na camada mais interna da parede da artéria, a chamada hiperplasia intimal.
Menos cicatrizes com nova técnica
Geralmente, os cirurgiões tomam apenas a veia da perna do paciente. Mas agora, os investigadores estão a estudar o efeito de um novo método que envolve também a colheita de alguns dos tecidos em torno da veia. A ideia é que isso irá evitar danos às paredes da veia durante o transplante.
“Seis meses após a cirurgia, a formação de tecido cicatricial em torno do enxerto foi claramente menor em pacientes que foram tratados usando a nova técnica de transplante”, referiu Øystein Pettersen, investigador na UNCT e médico na clínica de cirurgia torácica do Hospital St. Olavs, em Trondheim, Noruega.
Método de medição avançado
Os pacientes envolvidos no estudo foram aleatoriamente selecionados para um dos dois métodos de tratamento. Os investigadores mediram, ao fim de seis meses após a cirurgia, a quantidade de cicatrizes através de um método de imagem altamente avançado chamado tomografia de coerência ótica (OCT).
OCT usa luz infravermelha para criar imagens de alta resolução, o que neste caso permitiu aos investigadores medir com precisão a espessura da camada mais interna da parede da artéria, chamada ‘íntima’.
“A espessura da ‘íntima’ foi, em média, de 0,36 milímetros em pacientes que receberam tratamento convencional. No grupo onde a nova técnica de colheita venosa foi utilizada, o enxerto foi significativamente menos apertado, com uma espessura média de 0,27 milímetros”, explicou Pettersen, que é também o primeiro autor do estudo publicado na revista ‘American College of Cardiology’.
O investigador indicou ainda que também “houve uma menor variação na espessura da parede veia no grupo onde foi utilizado o novo método.”
Pacientes devem ser acompanhados durante cinco anos
Os Investigadores não puderam, no entanto, mostrar nenhuma diferença significativa no número de enxertos venosos que foram completamente bloqueados nos dois grupos, respetivamente seis pelo método de tratamento convencional e quatro pela nova técnica.
Para Pettersen não foi possível avaliar as diferenças entre os dois grupos no caso de bloqueio, dado o curto tempo de observação, pelo que será importante seguir por um maior período os doentes.
Os pacientes envolvidos no estudo foram submetidos à cirurgia no Hospital St. Olavs entre abril de 2013 e dezembro de 2014. Um total de 100 pacientes participaram, e os investigadores planeiam fazer mais estudos para ver os efeitos da nova técnica nos próximos cinco anos.