As Smart TV enviam dados de visualização para servidores permitindo às marcas criarem um perfil detalhado dos utilizadores e adaptarem os anúncios aos hábitos de consumo desses utilizadores. A descoberta agora revelada foi feita por uma equipa de investigadores da Universidade Carlos III de Madrid (UC3M), em colaboração com a University College London (Inglaterra) e a Universidade da Califórnia em Davis (EUA).
A investigação revelou que a tecnologia nas Smart TV efetua capturas de ecrã ou de áudio para identificar o conteúdo exibido no ecrã, usando a tecnologia de Reconhecimento Automático de Conteúdo (ACR, na sigla em inglês). Essas informações são periodicamente enviadas para servidores específicos, mesmo quando o Televisor é usada como monitor externo ou conectado a um computador portátil.
“O Reconhecimento Automático de Conteúdo funciona como uma espécie de “Shazam visual”, capturando imagens ou áudio para criar um perfil do espetador com base nos seus hábitos de consumo de conteúdos. Dessa forma, a tecnologia permite que as plataformas dos fabricantes criem perfis precisos dos seus utilizadores, tal como acontece na internet”, explicou Patricia Callejo, uma das autoras do estudo, professora do Departamento de Engenharia Telemática da Universidade Carlos III de Madrid e membro do Instituto Big Data UC3M-Santander.
A investigadora acrescentou: “De qualquer forma, esse rastreio, independentemente do modo de uso, levanta sérias preocupações de privacidade, especialmente quando o televisor é usado apenas como monitor”.
Os resultados do estudo, apresentados em novembro de 2024 na Internet Measurement Conference (IMC), destacam a regularidade com que essas capturas são transmitidas aos servidores das marcas analisadas: Samsung e LG.
Os dados mostram que os televisores da Samsung enviavam essas informações a cada minuto, enquanto os dispositivos da LG o faziam a cada 15 segundos. “Isso dá-nos uma ideia da intensidade da monitorização e mostra que as plataformas de Smart TV recolhem grandes volumes de dados sobre os utilizadores, independentemente de como estes consomem conteúdos – seja por meio da TV tradicional ou de dispositivos conectados via HDMI, como computadores portáteis ou consolas de jogos”, indicou Patricia Callejo.
Para testar a capacidade dos televisores de bloquear o rastreio por Reconhecimento Automático de Conteúdo, a equipa de investigação experimentou diferentes configurações de privacidade das Smart TV.
Os resultados da investigação mostraram que, embora seja possível bloquear voluntariamente a transmissão dos dados da Smart TV para os servidores, a configuração padrão ativa automaticamente o Reconhecimento Automático de Conteúdo.
“O problema é que nem todos os utilizadores estão cientes disso”, acrescentou Patricia Callejo, que considera esse fator preocupante, devido à falta de transparência nas configurações iniciais. “Além disso, muitos utilizadores não sabem como alterar essas configurações, de onde resulta que esses dispositivos funcionem como mecanismos padrão de rastreio das suas atividades”.
Os resultados da investigação abre novas perspetivas para estudar a monitorização realizada por dispositivos conectados à “nuvem” e que comunicam entre si (mais comumente conhecidos como Internet das Coisas, ou IoT, na sigla em inglês). Os resultados da investigação também sugerem que fabricantes e reguladores devem urgentemente abordar os desafios que esses novos dispositivos apresentarão num futuro próximo.