Uma investigação da Universidade da Califórnia, Irvine, revelou como a interrupção do relógio circadiano, o marca passo biológico interno de 24 horas do corpo, pode acelerar a progressão do cancro colorretal ao afetar o microbioma intestinal e a função da barreira intestinal. Esta descoberta oferece novos caminhos para estratégias de prevenção e tratamento.
O estudo, publicado na revista Science Advances, online, oferece uma compreensão mais abrangente de como mudanças importantes ocorrem na função e composição do microbioma intestinal quando o relógio circadiano é perturbado na presença de cancro colorretal.
“Há um aumento alarmante no cancro colorretal de início precoce em adultos com menos de 50 anos”, disse a autora correspondente do estudo, Selma Masri, especialista em química biológica. “O desalinhamento circadiano por meio de exposição prolongada à luz, refeições tardias e outros fatores ambientais podem [estar] a impulsionar esses casos. O nosso estudo sugere que a interrupção do relógio, particularmente por meio de escolhas de estilo de vida, pode desempenhar um papel significativo na saúde intestinal e, consequentemente, no risco de cancro.”
Investigações anteriores mostraram que distúrbios no relógio circadiano podem influenciar a progressão do cancro colorretal, mas até agora, como o relógio biológico e o cancro impactam o microbioma intestinal não estava claro. Usando modelos de ratos com cancro colorretal, a equipa descobriu que quando o relógio circadiano é interrompido, a diversidade e a abundância de bactérias intestinais mudam, e isso é ainda mais exacerbado pelo desenvolvimento do cancro.
Os investigadores também identificaram alterações notáveis nas vias microbianas envolvidas no metabolismo de ácidos nucleicos, aminoácidos e carboidratos. Essas mudanças funcionais foram ligadas a níveis reduzidos de muco intestinal, que normalmente protege o revestimento intestinal de bactérias nocivas, sugerindo que o relógio circadiano é crucial para manter a integridade da barreira. O aumento da permeabilidade do revestimento intestinal permite que toxinas e bactérias entrem na corrente sanguínea, potencialmente aceleram a progressão do cancro.
“Embora estas descobertas sejam importantes, é preciso mais trabalho”, disse Selma Masri, e acrescentou: “Em particular, agora queremos saber se mudanças no tempo e na abundância de certas bactérias intestinais podem levar diretamente ao desenvolvimento de cancro colorretal, ao longo do tempo”.
“Estudos de longo prazo serão essenciais para determinar se o desalinhamento circadiano impulsiona o cancro e como podemos preveni-lo no futuro. Insights mais profundos sobre como o relógio interno do corpo molda o ecossistema intestinal podem abrir caminho para tratamentos que não apenas tratem o cancro, mas também melhorem a saúde intestinal geral”, concluiu a investigadora.