A nossa saúde é a saúde do nosso cérebro

João André Sousa, Neurologista, Unidade Local de Saúde de Coimbra Membro Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC)
João André Sousa, Neurologista, Unidade Local de Saúde de Coimbra Membro Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC). Foto: DR

O cérebro é a caixa-negra do nosso organismo. Vê, sente e regista tudo, a toda a hora e em qualquer lugar. Todas as nossas experiências e vivências deixam uma marca indelével neste órgão que sofre em surdina. Todos os excessos – na dieta, no tabaco e no álcool – e todos os defeitos – de atividade física, estímulo cognitivo, sono e interação social – são como areia na engrenagem que vai desgastando aos poucos a complexa máquina que é o cérebro. Deste efeito cumulativo resultam as doenças do cérebro que, em grande parte, são o corolário de vários erros sistemáticos que vamos cometendo. O sal que colocamos a mais na nossa comida, a tablete de chocolate que era só um quadradinho, o copo de vinho que afinal são vários ao almoço e jantar, o exercício físico que começa amanhã, o sono que vai ser reposto ao fim-de-semana, os medicamentos para a tensão alta que só são tomados na véspera da consulta. O cérebro não cai nestas mentiras e cobra-nos, com juros muito elevados e sob a forma de doenças graves (algumas incuráveis), todos os empréstimos de saúde que lhe fomos pedindo ao longo de décadas.

No, dia 22 de julho, celebramos o Dia Mundial do Cérebro, precisamente com o tema “Brain health and prevention: protecting our future”. Importa, por isto mesmo, lembrar que a nossa saúde é tão somente aquela a que o nosso cérebro nos permitir. Este órgão é o nosso único garante de individualidade, autonomia e dignidade. É ele que nos torna únicos. Preservá-lo através de uma vida saudável é proteger o nosso futuro e o futuro de quem mais amamos. Porque, se não nos cuidarmos no presente, sobrará para alguém no futuro.

Para mudarmos de vida e protegermos o nosso cérebro e o nosso futuro, ontem já era tarde. Mas nunca é tarde demais.

Autor: João André Sousa, Neurologista, Unidade Local de Saúde de Coimbra, Membro Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC)