Há doze anos, Investigadores do cancro da Universidade da Califórnia em San Diego, EUA, identificaram uma molécula que ajuda as células cancerígenas a sobreviverem ao transportar células inflamatórias prejudiciais para o tecido tumoral, esta descoberta foi feita por Investigadores do cancro da Universidade da Califórnia em San Diego, EUA.
Agora, uma nova investigação mostrou que a mesma molécula faz a mesma coisa no tecido pulmonar infetado com COVID-19, uma molécula que pode ser suprimida com um medicamento contra o cancro.
O estudo já foi publicado na Science Translational Medicine, e mostra uma nova abordagem para prevenir danos irreversíveis aos órgãos nos casos de doenças infeciosas como COVID-19 e o Staphylococcus aureus resistente à meticilina.
Os dois principais participantes deste cenário são células inflamatórias, designadas por células mieloides, e uma enzima chamada PI3K gama (fosfatidilinositol 3,4,5-quinase gama). As células mieloides pertencem ao nosso sistema imunológico inato – a imunidade com a qual nascemos antes de sermos expostos a patógenos no ambiente – e trabalham muito rapidamente para matar agentes mortais como o SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19.
“Nosso trabalho mostra que medicamentos que podem prevenir o recrutamento de células mieloides prejudiciais em tecidos infetados com agentes graves como COVID-19 ou Staphylococcus aureus resistente à meticilina têm um benefício significativo na preservação da função do tecido se administrados cedo o suficiente numa infeção”, referiu Judith Varner, Universidade da Califórnia em San Diego, EUA, que lidera o programa Terapêutica de Tumores Sólidos do Moores Cancer Center da Universidade da Califórnia em San Diego e autora sénior do estudo.
A maioria dos outros medicamentos para COVID-19 tem como alvo o vírus, seja prevenindo a infeção, em primeiro lugar, ou impedindo que o vírus se torne mais ativo após a infeção. A abordagem atual tem como alvo o hospedeiro, evitando que o sistema imunológico reaja exageradamente ou que fibras se acumulem nos pulmões.
As células mieloides protegem-nos, mas também podem causar muitos danos, referiu Judith Varner, e acrescentou: “Se tem uma pequena infeção, as células mieloides entram, matam bactérias, libertam alertas que recrutam células imunes assassinas ainda mais potentes e produzem substâncias que podem curar os danos. Mas se tiver uma infeção muito forte, então obtém superprodução desses sinais de alerta, e as substâncias que elas libertam para matar esses agentes infeciosos também o podem matar. É o que acontece na COVID-19.”
A enzima PI3K gama promove o movimento de células mieloides para tecidos cancerígenos, como foi descoberto pelos investigadores no trabalho sobre o cancro há doze anos. Agora no trabalho atual, os investigadores mostram que a enzima PI3K gama também ajuda a mover células mieloides para tecidos infetados com SARS-CoV-2. Isto levou-os a raciocinar que um medicamento contra o cancro que inibe a enzima PI3K gama, chamado eganelisib, pode ser eficaz na supressão da inflamação na COVID-19, suprimindo a capacidade da enzima PI3K gama de mover células mieloides para o tecido infetado.
Usando uma combinação de sequenciamento de RNA em massa e bioinformática, os cientistas analisaram tecidos de humanos e ratos para ver como o SARS-CoV-2 alterou a composição celular e molecular dos tecidos infetados. Então trataram o tecido com eganelisibe para ver se a supressão da enzima PI3K gama fazia alguma diferença.
“Sequenciamos o tecido pulmonar de pacientes com COVID-19 e mostramos que quando os pacientes têm COVID-19, muitas das células pulmonares são mortas e há um grande aumento nas células mieloides. Também encontramos a mesma coisa em ratos infetados”, afirmou Judith Varner.
A investigadora acrescentou: “Quando tratamos com o medicamento, mostramos que o eganelisibe impede a entrada de células mieloides no tecido para que elas não possam causar todo esse dano. Estudos posteriores determinarão se ele pode realmente reverter o dano.”
A equipa de investigadores também teve os mesmos resultados em ratos infetados com Staphylococcus aureus resistente à meticilina.
“No início da crise da COVID-19 foram testados para efeitos semelhantes outros medicamentos, mas com um sucesso modesto. O trabalho é significativo porque esta é a primeira vez que esta abordagem específica de atingir as células mieloides especificamente demonstrou ser eficaz na COVID”, disse Judith Varner.
A FDA, agência de medicamentos dos EUA, acelerou o desenvolvimento do eganelisib em 2020, mas ainda o medicamento ainda não foi aprovado. Para a investigadora a publicação do atual estudo pode inspirar os fabricantes de medicamentos a considerar a produção de outros inibidores de PI3K gamma para tratar doenças infeciosas como COVID-19 e o Staphylococcus aureus resistente à meticilina. Mas a investigadora também está a colaborar com os especialistas em doenças infeciosas que trabalharam neste artigo. “Esperamos que esta investigação ajude a obter financiamento para continuar a investigar esta abordagem em outros cenários de doenças”, concluiu a investigadora.