Numa declaração conjunta, os responsáveis pelas agências humanitárias afirmam que passados cinco meses após os brutais ataques de 7 de outubro de 2023 de palestinianos do Hamas em Israel, e aos ataques das forças militares israelitas contra, sobretudo, à Faixa de Gaza, dezenas de milhares de palestinianos – na sua maioria mulheres e crianças – foram mortos e feridos.
Na Faixa de Gaza mais de três quartos da população foram forçadas a abandonar as suas casas, por diversas vezes, e enfrentam graves carências de alimentos, água, saneamento e cuidados de saúde, as necessidades básicas para sobreviver.
Na declaração os responsáveis das agências referem que o sistema de saúde continua a ser sistematicamente degradado, com consequências catastróficas. Em 19 de fevereiro, apenas 12 dos 36 hospitais com capacidade de internamento ainda funcionavam, mas parcialmente. E que houve mais de 370 ataques aos cuidados de saúde em Gaza desde 7 de outubro.
“As doenças são galopantes. A fome está iminente. A água está gotejando. A infraestrutura básica foi dizimada. A produção de alimentos foi interrompida. Os hospitais transformaram em campos de batalha. Um milhão de crianças enfrenta traumas diários.”
A declaração indica que “Rafah, o mais recente destino para mais de 1 milhão de pessoas deslocadas, famintas e traumatizadas, amontoadas num pequeno pedaço de terra, tornou-se outro campo de batalha neste conflito brutal. Uma nova escalada de violência nesta área densamente povoada causará vítimas em massa. Poderá também desferir um golpe mortal numa resposta humanitária que já está de joelhos.”
Não há lugar seguro em Gaza
“Os trabalhadores humanitários, eles próprios deslocados e confrontados com bombardeamentos, mortes, restrições de circulação e uma rutura da ordem civil, continuam os esforços para ajudar os necessitados. Mas, confrontados com tantos obstáculos – incluindo restrições de segurança e de circulação – não podem fazer muito”, afirmam as agências das Nações Unidas.
“Nenhuma resposta humanitária compensará os meses de privação que as famílias em Gaza suportaram. Este é o nosso esforço para salvar a operação humanitária para que possamos fornecer, pelo menos, o essencial: medicamentos, água potável, alimentos e abrigo à medida que as temperaturas descem.”
Os responsáveis pelas agências fazem um apelo para:
■ Um cessar-fogo imediato.
■ Os civis e a infraestrutura de que dependem devem serem protegidos.
■ Os reféns devem ser libertados imediatamente.
■ Serem criados pontos de entrada fiáveis que permitam trazer ajuda de todas as passagens possíveis, incluindo o norte de Gaza.
■ Sejam assumidas garantias de segurança e passagem desimpedida para distribuir ajuda, em grande escala, em toda Gaza, sem recusas, atrasos e impedimentos de acesso.
■ Seja criado um sistema de notificação humanitária funcional que permita que todo o pessoal e suprimentos humanitários se movimentem dentro de Gaza e entreguem ajuda com segurança.
■ As estradas devem ser transitáveis e os bairros devem ser limpos de munições explosivas.
■ Uma rede de comunicação estável que permite que os humanitários se movam com segurança.
■ A Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, que é a espinha dorsal das operações humanitárias em Gaza, deve receber os recursos de que necessita para prestar assistência vital.
■ Parem as campanhas que procuram desacreditar as Nações Unidas e as organizações não-governamentais que fazem o seu melhor para salvar vidas.
Os responsáveis afirmam que as agências humanitárias continuam empenhadas, apesar dos riscos. Mas eles não podem ser deixados para juntar os cacos.
“Apelamos a Israel para que cumpra a sua obrigação legal, ao abrigo do direito internacional humanitário e dos direitos humanos, de fornecer alimentos e medicamentos e de facilitar as operações de ajuda, e apelamos aos líderes mundiais para que evitem que uma catástrofe ainda pior aconteça”, conclui a declaração.
Assinam a declaração
- Martin Griffiths, Coordenador de Ajuda de Emergência e Subsecretário Geral para Assuntos Humanitários (OCHA)
- Sofia Sprechmann Sineiro, Secretária Geral, CARE International
- Qu Dongyu, Diretor Geral, Organização para Alimentação e Agricultura (FAO)
- Jane Backhurst, Presidente, ICVA (Christian Aid)
- Jamie Munn, Diretor Executivo, Conselho Internacional de Agências Voluntárias (ICVA)
- Tom Hart, Diretor Executivo e Presidente, InterAction
- Amy E. Pope, Diretora Geral, Organização Internacional para as Migrações (OIM)
- Tjada D’Oyen McKenna, CEO, Mercy Corps
- Volker Türk, Alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH)
- Janti Soeripto, Presidente e Diretora Executiva, Save the Children
- Paula Gaviria Betancur, Relatora Especial das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos das Pessoas Deslocadas Internamente (Relatora Especial sobre Direitos Humanos dos Deslocados Internos)
- Achim Steiner, Administrador, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
- Natalia Kanem, Diretora Executiva, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA)
- Filippo Grandi, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)
- Michal Mlynár, Diretor Executivo ai, Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UN-Habitat)
- Catherine Russell, Diretora Executiva, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)
- Sima Bahous, Subsecretária Geral e Diretora Executiva, ONU Mulheres
- Cindy McCain, Diretora Executiva, Programa Alimentar Mundial (PMA)
- Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral, Organização Mundial da Saúde (OMS)