No tratamento de linfomas agressivos e cancro do sangue (leucemia), as chamadas células T recetoras de antígenos quiméricos (células T CAR) estão a ser cada vez mais utilizadas.
As células imunológicas são retiradas de pacientes e programadas por meio de engenharia genética para detetar proteínas nas células tumorais malignas. Depois de programadas, as células T CAR são novamente injetadas no corpo do paciente para que estas possam lutar contra as células cancerígenas.
Mas devido a alguns efeitos colaterais graves, esta terapia requer extrema cautela e longas internações hospitalares.
Os cientistas do Hospital Universitário de Colónia estão a investigar novos mecanismos para tornar a imunoterapia baseada em células T CAR mais eficaz e segura. A equipa liderada por Markus Chmielewski do Centro de Medicina Molecular de Colónia apresenta agora uma nova estratégia para tornar a imunoterapia baseada em células T CAR mais eficaz e segura. O estudo que mostra melhoria na eficácia e seletividade das células T CAR foi publicado na revista Cell Reports Medicine.
A estratégia baseia-se no exame de tecidos de pacientes com linfoma tratados no Hospital Universitário de Colónia. A equipa de investigação encontrou um número crescente de proteínas de superfície CD80 e CD86 nas células tumorais. Um número tão elevado dessas proteínas não é encontrado em linfócitos B saudáveis (células B), as células afetadas do sistema imunológico nos linfomas. Em contraste com as terapias com células T CAR anteriormente disponíveis, que geralmente têm como alvo apenas a proteína de superfície CD19, os investigadores usaram duas construções CAR com proteínas-alvo diferentes que se complementam para ativar as células T contra as células tumorais. O CD19 foi selecionado como alvo para a primeira construção do CAR porque está presente em todos os linfócitos B. Outro alvo é o CD80/CD86, porque ocorre em linfócitos B malignos. Para este fim, os investigadores utilizaram um domínio de ligação, uma sequência proteica que pode reconhecer e ligar CD80 e CD86 na forma de um princípio de fechadura e chave.
Ambas as construções CAR funcionam juntas como uma chave ‘AND’ que só permite que a célula T CAR seja totalmente ativada e combata a célula alvo se ambos os marcadores de superfície forem detetados. Isto não prejudica as células B normais que possuem apenas o marcador CD19, o que é o caso das terapias com células T CAR aprovadas até à data. Isso permite que as células B normais continuem seu importante trabalho como parte do sistema imunológico. Isto também funciona ao contrário – se apenas a segunda construção CAR se ligar a CD80 ou CD86, mas não houver ligação a CD19.
“Nossas células T CAR apresentam uma estimulação mais diferenciada e duradoura por meio da chave biológica ‘AND’. Elas combatem as células cancerígenas de forma mais eficaz do que as abordagens de células T CAR aprovadas anteriormente e, ao mesmo tempo, não prejudicam os linfócitos B saudáveis e outras células positivas para CD19”, esclareceu Fabian Prinz, autor principal do estudo.
Os resultados foram alcançados em laboratório utilizando culturas de células e também modelos de ratos. “Os nossos próximos passos para os próximos anos são claros: a preparação de um ensaio clínico e o teste da estratégia proposta em pacientes com linfoma de células B”, afirmou Chmielewski.
O investigador resumiu: “O sucesso pré-clínico de nossa abordagem com células CAR é um exemplo da importância da pesquisa translacional que reconhece problemas reais dos pacientes, os traduz em problemas científicos que podem ser resolvidos em laboratório e encontra soluções através de experimentos”.