No 23 de janeiro, as forças israelitas mantiveram-se na maior parte da Faixa de Gaza os intensos bombardeamentos aéreos, terrestres e marítimos que resultaram em mais vítimas civis, destruição e deslocados palestinianos. Também se mantiveram os relatos de operações terrestres e combates entre forças israelitas e grupos armados palestinianos, como indica o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
As operações militares israelitas foram particularmente intensas em Khan Younis, com relatos de que as forças israelitas a cercaram e lançaram uma operação em grande escala na cidade, como já tinha sido relatado no dia 23 de janeiro. Da mesma forma também se verificaram relatos de intensos combates nas proximidades de hospitais em Khan Younis, incluindo Al Aqsa, Nasser e Al Amal, com palestinianos a tentar fugir para a cidade de Rafah, no sul. A área de Al Mawasi em Khan Younis teria sido alvo de fortes ataques.
Entre as tardes de 23 e 24 de Janeiro, dados do Ministério da Saúde de Gaza, indicam que 210 palestinianos terão sido mortos e 386 palestinianos ficado feridos. Com estas novas vítimas o total de mortos desde 7 de outubro de 2023 e as 12h00 de 23 de janeiro de 2024, sobe para pelo menos 25.700 palestinianos e para 63.740 os palestinianos feridos, na Faixa de Gaza.
Entre as tardes de 23 e 24 de janeiro, não foi relatada a morte de nenhum soldado israelita em Gaza. Até 24 de janeiro, 219 soldados foram mortos e 1.250 soldados ficaram feridos em Gaza, segundo os militares israelitas.
Em 24 de janeiro, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) relatou que uma oficina de carpintaria localizada dentro do Centro de Formação Khan Younis foi atingida por dois projéteis de tanque, causando um incêndio no interior da oficina. O número de vítimas ainda não foi confirmado. Estima-se que cerca de 800 deslocados internos se encontravam ai abrigados, enquanto dezenas de milhares de pessoas estavam abrigadas no resto do Centro de Formação.
Apesar da falta de uma passagem segura, os deslocados internos estarão a fugir do Centro de Formação Khan Younis em direção à estrada costeira e em direção a Deir al Balah ou Rafah. Como já tinha sido relatado a área do Centro de Formação Khan Younis já tinha sido atingida em 22 de janeiro, em que foram mortos seis palestinianos e 16 ficaram feridas.
Em 24 de Janeiro, o Gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ACNUDH) no Território Palestiniano Ocupado informou que milhares de civis foram forçados a fugir para Rafah, que acolhe atualmente mais de 50% da população da Faixa de Gaza.
Os ataques colocaram seriamente em perigo os civis, incluindo os que se encontravam abrigados em unidades de saúde. Eles afirmaram que: “…as IDF (Forças de Defesa Israelitas) continuam a bombardear áreas que designaram unilateralmente como “seguras” para evacuação, reforçando que nenhum lugar em Gaza é seguro (por exemplo, a área de Al Mawasi no oeste de Khan Younis)…e levanta graves alarmes de uma nova escalada das hostilidades em Rafah, o que poderá ter sérias implicações para mais de 1,3 milhões de pessoas que estão alegadamente abrigadas na província, com o risco concomitante de que as pessoas que estão essencialmente presas em áreas cada vez mais pequenas possam ser forçadas a sair de Gaza.”
Em 24 de janeiro, o Ministério da Saúde em Gaza continuou a informar sobre o cerco ao Hospital Nasser em Khan Younis. Ninguém pode entrar ou sair das instalações devido aos bombardeamentos contínuos nas proximidades, incluindo 400 pacientes em diálise que necessitam de apoio. Como já relatado anteriormente, o pessoal de saúde está a cavar sepulturas nas instalações dos hospitais devido ao grande número de mortes.
Em 24 de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que existem agora 14 hospitais parcialmente funcionais; sete no norte e sete no sul. Além disso, dois hospitais prestam serviços mínimos apenas para quem está dentro dos complexos. Os dois que funcionam minimamente, Al Kheir (onde os militares israelitas estão atualmente presentes) e Nasser (cercado pelos militares israelitas e onde há combates intensos) não têm condições de receber pacientes ou suprimentos.
Em 24 de janeiro, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano (PRCS, na sigla em inglês) informou que as forças israelitas continuaram a sitiar a sua sede de ambulâncias e o Hospital Al Amal em Khan Younis, restringindo todos os movimentos na área. Além disso, a entrada da sede do PRCS teria sido atingida, matando pelo menos três palestinianos e ferindo outros dois. O PRCS afirmou que foi forçado a pedir aos deslocados internos que doassem sangue, pois não têm acesso aos bancos de sangue para tratar os feridos. As equipas médicas não conseguem transferir feridos graves do Hospital Nasser para unidades de saúde próximas. Em 23 de janeiro, as proximidades do Hospital Al-Amal, em Khan Younis, teriam sido bombardeadas, no meio de intensos combates em torno do hospital; um palestiniano teria sido morto na entrada do Hospital Al Amal.
Em 23 de janeiro, a empresa palestiniana de telecomunicações Paltel anunciou que os serviços em Gaza estavam a ser gradualmente restaurados. Os relatórios iniciais indicam que as linhas telefónicas não foram restauradas nas zonas central e norte, e os serviços de Internet não foram restaurados em toda a Faixa de Gaza desde o início do anterior corte de telecomunicações, em 12 de janeiro. O encerramento das comunicações continua a dificultar significativamente os esforços da comunidade humanitária para avaliar a extensão total das necessidades em Gaza e para responder adequadamente ao agravamento da crise humanitária.
No dia 24 de janeiro, manifestantes israelitas tentaram bloquear a entrada de ajuda humanitária através da passagem de Kerem Shalom, parando os camiões durante várias horas. Como resultado, apenas nove camiões conseguiram entrar e os restantes (114) foram forçados a desviar para o Egipto e para a passagem de Rafah. No mesmo dia, 153 camiões carregados de alimentos, medicamentos e outros fornecimentos entraram na Faixa de Gaza através das passagens de Rafah e Kerem Shalom.
Em 24 de janeiro, os parceiros da ONU, por ocasião do Dia Mundial da Educação, instaram todos os intervenientes a garantir que as barreiras à educação sejam abordadas, especialmente através da disponibilização de abrigo adequado que facilite a recuperação, para permitir o direito de aprender. Além disso, declararam: “a aprendizagem foi devastada na Faixa de Gaza desde o início das hostilidades em Outubro de 2023.
Mais de 625.000 estudantes e 22.564 professores foram privados de educação e de um local seguro durante mais de três meses, e milhares de alunos e pessoal educativo estão entre as mais de 25 mil pessoas que teriam sido mortas”. Todas as escolas da UNRWA na Faixa de Gaza fecharam – a maioria transformadas em abrigos –, privando da educação as 300 mil crianças que as frequentavam. A UNRWA relata que pelo menos 340 pessoas deslocadas internamente foram mortas enquanto procuravam segurança nos abrigos da UNRWA.
Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza
Entre os incidentes mortais relatados em 22 a 24 de janeiro, enumeramos os seguintes:
■ Em 22 de janeiro, dez palestinianos teriam sido mortos após uma explosão ter sido relatada na Escola Al Mawasi, na área de Al Mawasi.
■ No dia 22 de janeiro, durante a noite, sete palestinianos terão sido mortos e outros 15 ficaram feridos, depois de um edifício residencial ter sido atingido na cidade de Jabalya, no norte de Gaza.
■ No dia 23 de janeiro, por volta das 16h50, quatro palestinianos deslocados teriam sido mortos e outros ficaram feridos, incluindo crianças, depois de um edifício residencial ter sido atingido na área de Al Hassanynah, Deir al Balah.
■ No dia 23 de janeiro, por volta das 12h50, quatro palestinianos teriam sido mortos, depois de um carro ter sido atingido em Rafah, no sul de Gaza.
■ No dia 23 de janeiro, por volta das 14h00, quatro palestinianos, incluindo uma criança, foram mortos quando um grupo de pessoas teria sido atingido na área de Al Mawasi.
Deslocação da população na Faixa de Gaza
De acordo com uma declaração divulgada pelo ACNUDH em 24 de janeiro, a intensificação da operação militar israelita em Khan Younis levanta sérias preocupações de que os civis sejam forçados a abandonar as suas casas e abrigos, incluindo aqueles que tinham sido anteriormente deslocados do norte de Gaza para Khan Younis. Centenas de milhares de pessoas deslocadas enchem agora as ruas de Khan Younis e Rafah e vivem em abrigos improvisados em condições miseráveis, com pouco ou nenhum acesso a alimentos, água, medicamentos e abrigo adequado, e muitos enfrentam o risco de mais deslocações.
Em 20 de janeiro, a UNRWA relatou que havia cerca de 1,7 milhões de deslocados internos em Gaza. Muitos deles foram deslocados diversas vezes, pois as famílias foram forçadas a mudar-se repetidamente em busca de segurança. Devido aos contínuos combates e às ordens de evacuação, algumas famílias afastaram-se dos abrigos onde foram inicialmente registadas. A província de Rafah é o principal refúgio para os deslocados, com mais de um milhão de pessoas comprimidas num espaço extremamente sobrelotado, na sequência da intensificação das hostilidades em Khan Younis e Deir al Balah e das ordens de evacuação dos militares israelitas.
Em 23 de janeiro, e como já relatado no dia 24 de janeiro, os militares israelitas emitiram novas ordens de evacuação, através das redes sociais, para a saída dos palestinianos de vários quarteirões da cidade de Khan Younis. A área afetada cobre cerca de quatro quilómetros quadrados, onde existem cerca de 88 mil residentes, além de cerca de 425 mil pessoas deslocadas internamente que ai procuraram abrigo em 24 escolas e outras instituições. A área a evacuar inclui o Hospital Nasser (capacidade de 475 camas), o Hospital Al Amal (100 camas) e o Hospital Jordaniano (50 camas), representando quase 20 por cento dos restantes hospitais parcialmente funcionais em toda a Faixa de Gaza. Três postos de saúde também estão localizados na área afetada. Cerca de 18.000 deslocados internos encontram-se no Hospital Nasser, com um número desconhecido de deslocados internos que procuram abrigo em outras unidades de saúde.