A dimensão e relevância da emigração no território nacional, uma constante estrutural da sociedade portuguesa, têm impelido a construção nos últimos anos, um pouco por todo o país, de vários monumentos ao emigrante, com o objetivo de homenagear os portugueses que partiram em demanda de melhores condições vida pelos quatro cantos do mundo, assim como o contributo que prestam ao desenvolvimento das suas terras de origem.
Como observam as sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, em “Emigração, Identidade, Educação: Mitos, Arte e símbolos Lusitanos”, este fenómeno de construção de monumentos ao emigrante “marca na atualidade a paisagem portuguesa”, sendo em grande medida o reflexo da “alma de um povo lutador, trabalhador, fazedor de mitos que, pelas mais variadas razões, não hesita em dobrar fronteiras”.
De facto, são muitos e variados os exemplos de monumentos aos emigrantes que enobrecem vários espaços do território nacional, desvendando e homenageando os percursos emigratórios de inúmeros compatriotas. Assim como, o empreendedorismo e a solidariedade que os mesmos dinamizam nas pátrias de acolhimento e de origem.
No Norte de Portugal, por exemplo, na cidade da Póvoa de Varzim, distrito do Porto, no ocaso da década de 1990, foi inaugurado o Monumento ao Emigrante localizado no Monte de São Félix em Laúndos, dedicado aos portugueses que partiram para o Brasil em busca de uma vida melhor. O marco é simbolizado pela família Giesteira, que saiu de Laúndos nos anos 50 rumo a terras brasileiras, na esteira de milhares de compatriotas, foi financiado por Manuel Giesteira, primogénito da família Giesteira, cujo empreendedorismo e benemerência alavancou em Guarulhos, São Paulo, um instituto filantrópico.
Na região do Centro, São Pedro do Sul, uma década antes, recebeu uma obra escultórica de homenagem aos emigrantes que partiram desta cidade pertencente ao distrito de Viseu em direção à África do Sul. O monumento, localizado no Jardim do Emigrante, foi inclusivamente oferecido pela comunidade portuguesa na República da África do Sul.
Já no Norte Alentejano, designadamente na vila raiana de Nisa, em 2017, foi inaugurado um monumento que homenageia todos os nisenses que emigraram sobretudo para França, simbolizando a viagem “a salto”, além Pirenéus, que nos anos 60 foi trilhada por milhares de portugueses.
Nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, territórios indelevelmente marcados pela emigração, são vários os monumentos que assinalam o fenómeno. Entre os mais recentes, encontram-se duas estátuas que homenageiam duas das mais proeminentes figuras da comunidade portuguesa na Califórnia, onde se encontra a maior comunidade de portugueses e descendentes luso-americanos nos Estados Unidos.
Em 2017, na ilha do Pico, foi inaugurada na praceta do Centro Social da Silveira, Lajes do Pico, uma estátua em homenagem ao comendador Manuel Eduardo Vieira, o maior produtor mundial de batata-doce biológica. Natural da Silveira, onde foi o principal benemérito da obra do Salão do Centro Social, Cultural e Recreativo, o emigrante açoriano conhecido como o “rei da batata-doce“, com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, tem ao longo dos anos apoiado, concomitantemente, associações luso-americanas e coletividades da ilha do Pico
Em 2021, no povoado dos Rosais, freguesia do Município de Velas, na Ilha de São Jorge, foi descerrado um busto em homenagem ao comendador Batista Sequeira Vieira. Um dos mais destacados empreendedores da comunidade luso-americana, que ao longo dos anos tem devotado a várias instituições da sua terra natal, como por exemplo, a Casa de Repouso João Inácio de Sousa, um pródigo altruísmo.
Comungando da análise das sociólogas Alice Tomé e Teresa Carreira, estes monumentos atuais, constituem uma genuína homenagem à história da emigração portuguesa, porquanto “não são tributários de uma identidade pessoal, nem de uma só época, são sim, a afirmação da saudade, da dor, do esforço quase sobre-humano e também do triunfo de uma viragem do país”.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor