O relato diário do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla inglesa) descreve que no dia 4 de janeiro, os pesados bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos continuaram na maior parte da Faixa de Gaza, incluindo o centro de Gaza, na cidade de Khan Younis, no sul, e no campo de Jabalya, no norte de Gaza. Também continuou o lançamento de rockets por grupos armados palestinianos contra Israel. Além disso, foram relatadas operações terrestres e combates entre forças israelitas e grupos armados palestinianos, inclusive nos campos de Al Bureij e Al Maghazi em Deir al Balah, para onde os palestinianos se deslocaram a partir do norte de Gaza e dos Bairros Al Darraj e At Tuffah da cidade de Gaza. Operações de onde há relatos ter resultado um grande número de mortes.
Entre as tardes de 3 e 4 de janeiro, 125 palestinianos foram mortos e outras 318 pessoas ficaram feridas, indicou o Ministério da Saúde em Gaza. No total, entre 7 de outubro e as 12h00 de 3 de Janeiro, pelo menos 22.438 palestinianos foram mortos em Gaza. Cerca de 70% dos mortos seriam mulheres e crianças. Durante o mesmo período, 57.614 palestinianos ficaram feridos.
Desde 3 de janeiro e até 4 de janeiro, não foi relatada qualquer morte de soldados em Gaza. No total, desde o início da operação terrestre em Gaza, 173 soldados foram mortos e 1.003 soldados feridos, de acordo com o divulgado pelos militares israelitas.
Em 3 de janeiro, os militares israelitas designaram mais dois blocos para evacuação na província de Deir al Balah, emitindo ordens através de panfletos lançados por via aérea. A área estimada é de 1,2 quilómetros quadrados, onde vivem cerca de 4.700 pessoas e onde está localizado um centro de saúde apoiado pela ONU (Nusseriat). Desde 1 de dezembro, foram emitidas ordens de evacuação para diversas áreas, que se estima abrangerem 128 quilómetros quadrados apenas a sul do rio Gaza (35% da Faixa de Gaza) e que anteriormente albergavam pouco mais de 1 milhão de pessoas (44% da população de Gaza). Esta área abrange 13 hospitais, 29 unidades de saúde e 143 abrigos onde mais de 550 mil pessoas deslocadas internamente se refugiavam.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e outros parceiros humanitários não conseguiram prestar a assistência humanitária urgentemente necessária para salvar vidas a norte do rio Gaza durante quatro dias devido a atrasos e não autorização de acesso pelos militares israelitas, bem como devido a conflitos ativos.
Assim, não foi possível o fornecimento de medicamentos que são vitais a mais de 100 mil pessoas para 30 dias, bem como não seguiram oito camiões de alimentos para pessoas que atualmente enfrentam uma insegurança alimentar potencialmente fatal. As organizações humanitárias apelam a um acesso humanitário urgente, seguro, sustentado e sem entraves às áreas a norte do rio Gaza, que estão separadas do sul há mais de um mês.
Em 4 de janeiro, as proximidades do hospital Al Amal e da Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS), em Khan Younis, foram atingidas pelo terceiro dia consecutivo. O PRCS informou que sete deslocados internos abrigados no complexo, incluindo um bebé de cinco dias, foram mortos, enquanto outras 11 pessoas ficaram feridas durante os três dias de bombardeamento. A PRCS também informou que dezenas de edifícios residenciais e pessoas reunidas na entrada do Hospital Al Amal foram atingidas, resultando em mais dezenas de mortos e feridos.
Em 3 de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que, nos três dias anteriores, 13 camiões que transportavam material médico essencial para cirurgias e anestesia tinham sido entregues através da passagem de Rafah. A ajuda médica deverá ser entregue ao Complexo Médico Nasser, Al Aqsa, Al Awda e aos hospitais europeus de Gaza, no sul de Gaza, beneficiando cerca de 142 mil pacientes. A OMS apelou a um acesso desimpedido para que estes itens vitais cheguem aos seus destinos finais.
No dia 4 de janeiro, 177 camiões com alimentos, medicamentos e outros fornecimentos entraram na Faixa de Gaza através das passagens de Rafah e Kerem Shalom.
Hostilidades e vítimas na Faixa de Gaza
Os incidentes considerados mais mortais relatados entre 3 e 4 de janeiro:
■ No dia 3 de janeiro, por volta das 13h00, dezenas de pessoas terão sido mortas quando um edifício residencial no campo de Jabalya, no norte de Gaza, foi atingido.
■ No dia 3 de janeiro, por volta das 19h30, quatro pessoas teriam sido mortas num ataque aéreo perto da Mesquita de Aisha, em Rafah, no sul de Gaza.
■ No dia 3 de janeiro, por volta das 23h00, 10 pessoas teriam sido mortas quando duas casas em Deir al Balah foram atingidas.
■ No dia 4 de janeiro, por volta da 1h00, 14 pessoas, incluindo pelo menos nove crianças e duas mulheres, teriam sido mortas quando uma casa a oeste de Khan Yunis, no sul de Gaza, foi atingida. O edifício estaria sendo usado como abrigo por deslocados internos.
■ No dia 4 de janeiro, por volta da 1h00, seis pessoas teriam sido mortas e outras seis feridas, quando terras agrícolas onde os deslocados internos estavam abrigados, a oeste de Khan Yunis, foram atingidas.
Deslocação da população na Faixa de Gaza
No final de 2023, de acordo com a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA na sigla inglesa), estimava-se que 1,9 milhões de pessoas, ou quase 85% da população total de Gaza, estavam deslocadas internamente, incluindo muitas que foram deslocadas várias vezes, uma vez que as famílias são forçadas a mudar-se repetidamente na procura de segurança. Quase 1,4 milhões de deslocados internos estão abrigados em 155 instalações da UNRWA em todas as cinco províncias. A província de Rafah é agora o principal refúgio para os deslocados, com mais de um milhão de pessoas comprimidas num espaço extremamente sobrelotado, na sequência da intensificação das hostilidades em Khan Younis e Deir al Balah e das ordens de evacuação dos militares israelitas. A obtenção de um número preciso do número total de deslocados internos continua a ser um desafio.
Em 4 de janeiro, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos declarou que estava “muito perturbado com as declarações de altos funcionários israelitas sobre os planos de transferência de civis de Gaza para países terceiros”, e acrescentou: “O direito internacional proíbe a transferência forçada de pessoas protegidas ou a deportação de território ocupado.”
Energia elétrica na Faixa de Gaza
Desde 11 de outubro, a Faixa de Gaza está sob um corte total de eletricidade, depois de as autoridades israelitas terem cortado o fornecimento de eletricidade, e as reservas de combustível para a única central elétrica de Gaza terem esgotado. O encerramento das comunicações e do fim do combustível continua a dificultar significativamente os esforços da comunidade humanitária para avaliar a extensão total das necessidades em Gaza e para responder adequadamente ao agravamento da crise humanitária.
Cuidados de saúde, incluindo ataques na Faixa de Gaza
Em 3 de janeiro, a UNRWA anunciou que iria entregar rapidamente, com a UNICEF, a OMS e outros parceiros, mais de 960.000 doses adicionais de vacinas essenciais na Faixa de Gaza, para proteção contra doenças como o sarampo, a pneumonia e a poliomielite. Entre 25 e 29 de dezembro, os parceiros humanitários entregaram mais de 600.000 doses de vacinas à Faixa de Gaza.
Segundo a OMS, em 3 de janeiro, 13 dos 36 hospitais de Gaza estavam parcialmente funcionais, nove no sul e quatro no norte. Os hospitais do norte oferecem serviços de maternidade, trauma e atendimento de emergência. No entanto, enfrentam desafios como a escassez de pessoal médico, incluindo cirurgiões especializados, neurocirurgiões e pessoal de cuidados intensivos, bem como a falta de material médico, como anestesia, antibióticos, medicamentos para alívio da dor e fixadores externos. Além disso, eles têm uma necessidade urgente de combustível, alimentos e água potável.
A situação dos hospitais e o nível de funcionalidade dependem da capacidade flutuante e do nível mínimo de bens que podem chegar às instalações. Os nove hospitais parcialmente funcionais no sul estão a funcionar com o triplo da sua capacidade, ao mesmo tempo que enfrentam escassez crítica de fornecimentos básicos e combustível.
Segurança alimentar na Faixa de Gaza
O Sector da Segurança Alimentar continua a apoiar as necessidades alimentares diárias da população de Gaza, embora o ambiente operacional e a capacidade de resposta continuem a ser prejudicados por riscos de segurança e restrições de mobilidade. No dia 2 de janeiro, o Programa Alimentar Mundial (PAM) distribuiu 98.000 cestas básicas em Rafah. O fornecimento de farinha de trigo, sal e açúcar às padarias é contínuo; seis padarias estão atualmente operacionais em Rafah, mas apenas cinco das oito padarias em Deir al Balah permanecem funcionais. No dia 4 de janeiro, o Economista-Chefe do PAM declarou que “ainda podemos evitar a fome. Mas precisamos de garantir que as pessoas tenham comida, água, abrigo e saneamento.”
O Comité de Revisão da Fome (CRF), ativado devido a evidências que ultrapassam a Fase 5 da insegurança alimentar aguda (limiar catastrófico) na Faixa de Gaza, alerta que o risco de fome está a aumentar diariamente no meio de conflitos intensos e acesso humanitário restrito. A CRF afirmou que, para eliminar o risco de fome, é imperativo travar a deterioração da situação de saúde, nutrição, segurança alimentar e mortalidade através da restauração dos serviços de saúde, água, saneamento e higiene. Além disso, a CRF apelou à cessação das hostilidades e à restauração do espaço humanitário para a prestação de assistência multissectorial como primeiros passos vitais para eliminar qualquer risco de fome.