Na Biblioteca Nacional foi agora, dia 11 de dezembro, assinado o termo de doação do espólio de José Saramago, pela filha do escritor e prémio Nobel, Violante Saramago Matos, pela Presidente da Fundação José Saramago e viúva do escritor, Pilar del Rio, e pela Diretora-Geral da Biblioteca Nacional, Maria Inês Cordeiro.
Na cerimónia da assinatura do termo de doação esteve presente o Primeiro-Ministro, António Costa, o Ministro da Cultura, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o escritor Eduardo Lourenço, o antigo Ministro da Cultura, José Pinto Ribeiro, entre outras personalidades.
A Diretora-Geral da Biblioteca Nacional indicou que do espólio de José Saramago fazem parte “ideias em apontamentos breves, notas de leitura, correspondência, as primeiras versões de um romance, listas de livros a comprar ou a ler, desenhos, textos que nunca foram publicados, projetos de edição, impressões de uma conversa, fotografias e provas tipográficas”.
A Diretora-Geral da Biblioteca Nacional divulgou que a doação do espólio foi decidida por José Saramago em 1994, e citou que, na correspondência entre o escritor e a Biblioteca, o mesmo teria referido: “À entrega, do que nunca tive dúvidas, devia ter como destino a Biblioteca Nacional”, e Saramago teria acrescentado que “um dia destes com vagar vou dar uma volta aos meus desordenados arquivos, há cartas, papeis, manuscritos que não tenho o direito de conservar como coisa minha pois pertencem a todos”.
Entre 1994 e 1999 Saramago iniciou “a entrega de diversos conjuntos de documentos entre os quais destaca-se o original da morte de Ricardo Reis e o diploma do prémio Nobel de Literatura”, indicou a responsável pela Biblioteca.
Sobre os termos da doação, Maria Inês Cordeiro, indicou também que “na correspondência então trocada, Saramago concordava com o teor do termo de doação que foi proposto, que não chegou a ter a ocasião de assinar, mas que é basicamente o mesmo” que agora se concretiza.
Sobre a reserva de acesso ao espólio, a responsável pela Biblioteca referiu que José Saramago, na correspondência com a Biblioteca, escreveu: “Os documentos não são meus, estão à guarda da Biblioteca Nacional, e pertencem a todos”.
Para o Primeiro-Ministro “não é todos os dias que se ganha um Nobel, muito menos se recebe o espólio de um Nobel”, e acrescentou que “tornar público um espólio é em primeiro lugar um ato de grande coragem, de coragem porque é a violação total da privacidade, deixar as agendas de toda uma vida, sobretudo as agendas tão rigorosa e preciosamente anotadas, dia a dia, como são as agendas de José Saramago”.
António Costa referiu que a doação do espólio tem dois significados muito importantes, “em primeiro lugar é uma homenagem à Biblioteca Nacional”, e um segundo significado, “é uma última homenagem à liberdade que é tornar público não só aquilo que está hoje publicado, mas também aquilo que estava nas suas gavetas e que agora se torna público”.
O Primeiro-Ministro concluiu referindo que a doação é “um ato de libertação que no fundo é também um bom grito pela liberdade”.