O medicamento belzutifan reduziu significativamente o risco de progressão do carcinoma de células renais de células claras (CCRcc), que é o tipo mais comum de cancro renal, em pacientes previamente tratados com inibidores de checkpoint imunológico e terapêuticas antiangiogénicas, em comparação com o medicamento everolimus.
O ensaio clinico de Fase III, liderado por Toni K. Choueiri, do Dana-Farber Cancer Institute, mostrou que o risco de progressão foi reduzido em 25 a 26%. Resultados que foram apresentados no Congresso anual da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) em 21 de outubro de 2023, em Madrid, Espanha.
“Este é um progresso real para os pacientes e pode levar à aprovação deste medicamento para este grupo de pacientes”, afirmou Toni K. Choueiri, que fez a apresentação no ESMO, em Madrid.
Atuação do medicamento
O medicamento belzutifan, um inibidor do HIF-2α, que está atualmente aprovado para pacientes com carcinoma de células renais associado à doença de Von Hippel-Landau (VHL), uma forma de cancro renal. O medicamento foi originalmente aprovado para pacientes com cancro renal com doença VHL, por os pacientes herdarem uma mutação que inativa o gene VHL, o que resulta numa superabundância de HIF-2α nas células.
A superabundância de HIF-2α nas células está associada ao aumento da atividade geradora de cancro, como proliferação celular, evasão imunológica, baixos níveis de oxigénio (chamada hipóxia) e formação de vasos sanguíneos (chamada angiogénese). William G. Kaelin, Jr., do Dana-Farber Cancer Institute, recebeu o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2019 pela descoberta do papel do HIF-2α no cancro e em outras doenças.
“O conhecimento que temos sobre hipóxia e angiogénese no cancro renal resultou dessa investigação pré-clínica essencial no Dana-Farber”, disse Toni K. Choueiri. “Avançar com esse conhecimento para beneficiar os pacientes é muito gratificante.”
Embora a mutação que causa a doença de VHL seja herdada, também ocorrem mutações espontâneas que inativam a VHL ocorrem em mais de 90% dos tumores de CCRcc, sugerindo que um inibidor de HIF-2α também pode beneficiar pacientes com CCRcc.
Ensaio clínico
O ensaio, denominado LITESPARK-005, envolveu 746 pacientes com CCRcc metastático que progrediram após o tratamento com um inibidor de checkpoint imunológico (ICI), como um inibidor de PD-1 ou PD-L1, e uma terapia antiangiogénica. Os ICIs e os medicamentos antiangiogénicos tornaram-se parte de uma terapia padrão de primeira e segunda linha para o CCRcc metastático, embora a maioria dos pacientes acabe por apresentar progressão da doença e precisar de opções de tratamento adicionais.
Os resultados mostraram na segunda análise interina, após uma mediana de 25,7 meses, que os pacientes que tomaram belzutifan tiveram 26% menos probabilidade de ter uma progressão em comparação com os que tomaram everolimus.
Resultados clínicos
A taxa de resposta global também foi maior com o belzutifan, de 22% versus 3,5%, e 13 pacientes tiveram uma resposta completa com o belzutifan em comparação com nenhum com o everolimus. Os pacientes que tomaram belzutifan também tiveram menor probabilidade de interromper a terapia devido a efeitos colaterais.
Verificou-se uma melhoria na sobrevivência global com belzutifan, embora não tenha sido estatisticamente significativa, no entanto “é importante ressaltar que a qualidade de vida favoreceu o belzutifan”, disse Toni K. Choueiri.
Para os investigadores esta investigação da monoterapia com belzutifan faz parte de uma estratégia mais ampla para saber mais sobre a eficácia e segurança da inibição do HIF-2α no CCR. A estratégia envolve vários ensaios LITESPARK que examinam o beluzutifan isoladamente e em combinação com outras terapias em ambientes de doenças sem tratamento prévio e pré-tratadas.
Toni K. Choueiri também apresentou resultados atualizados da fase 2 do LITESPARK-003 no Congresso da ESMO que mostraram que o belzutifan mais o cabozantinibe apresentaram atividade antitumoral durável e um perfil de segurança consistente com observações anteriores publicadas na revista “The Lancet Oncology”.