A administração dos EUA, atualmente presidida por Joe Biden, anunciou a localização de sete centros regionais de produção de hidrogénio que receberão uma parte de 7 mil milhões de dólares em financiamento inicial para ajudar a impulsionar a indústria desse combustível.
O hidrogénio é visto por alguns como uma alternativa mais limpa aos combustíveis fósseis. Mas outros observam que o processo ainda depende fortemente de combustíveis fósseis como matéria-prima.
Robert Howarth, professor de ecologia e biologia ambiental e membro do corpo docente do Atkinson Center for Sustainability da Universidade de Cornell, mostra que o “hidrogénio azul”, que utiliza metano proveniente do gás natural, pode prejudicar mais o clima do que a queima de combustíveis fósseis.
“É extremamente dececionante ver a administração Biden fornecer fundos para centros de hidrogénio que serão baseados em combustíveis fósseis, mesmo com a captura de carbono. É preciso muito gás natural para produzir hidrogénio, uma vez que o metano no gás natural é a matéria-prima química para o processo, e o gás natural também é queimado para alimentar o processo químico de decomposição do metano em hidrogénio e dióxido de carbono. Portanto, as emissões de dióxido de carbono são bastante elevadas”, explica Robert Howarth.
Para o especialista o “’Hidrogénio azul’ é uma invenção da indústria do petróleo e do gás, um termo de marketing que surgiu apenas nos últimos oito anos. O conceito é capturar o dióxido de carbono que é libertado quando o metano se decompõe. Infelizmente, essa captação também consome energia, que obriga a queima de ainda mais gás natural. E a captura de carbono está longe de ser perfeita: quantidades significativas de dióxido de carbono ainda são libertadas para a atmosfera”.
“Simplesmente não é possível desenvolver, processar, transportar e armazenar gás natural sem que parte dele seja emitido para a atmosfera sem ser queimado como metano. A quantidade pode parecer baixa, mas o metano é um gás com efeito de estufa incrivelmente poderoso, mais de 80 vezes mais poderoso que o dióxido de carbono como agente do aquecimento global”, esclarece Robert Howarth.
“Quanto ao futuro do hidrogénio num futuro energético descarbonizado, existe um papel, mas apenas para o ‘hidrogénio verde’, que é o hidrogénio produzido a partir de eletricidade 100% renovável, utilizado para decompor a água em hidrogénio e oxigénio, num processo chamado ‘eletrólise’, sem liberação de dióxido de carbono”, conclui o especialista.