A violência que se desenrola desde os ataques terroristas orquestrados pelo Hamas contra a população israelita deverá aumentar nos próximos dias e semanas e terá implicações para a geopolítica regional e global, afirma Ali Bilgic, especialista de Relações Internacionais e Segurança na Universidade de Loughborough, no Reino Unido.
Para o especialista no período pós-revoltas árabes, a presença política, económica e militar dos EUA no Médio Oriente sofreu porque os seus principais aliados e parceiros estratégicos, envolvidos de diferentes maneiras na guerra civil síria, encontraram-se em lados opostos do conflito.
Um dos exemplos a Turquia que há anos não tem uma representação diplomática em Israel e no Egito, e foi pioneira na campanha contra a Arábia Saudita após o assassinato de Jamal Khassigchi. Outro exemplo são as relações entre o Qatar e outros estados do Golfo liderados pela Arábia Saudita que foram tão intensas que esta última colocou um bloqueio ao Qatar.
No entanto, desde o malfadado “Plano de Paz para o Médio Oriente” de Donald Trump e a retirada dos EUA do Acordo Nuclear com o Irão, Washington tem-se empenhado numa diplomacia construtiva entre os seus aliados e parceiros. A administração de Joe Biden conseguiu reconstruir uma rede de aliados.
Ali Bilgic descreve que desde os ataques e a resposta israelita que levaram a vítimas civis em Gaza, o futuro desta rede está em jogo. Esta instabilidade proporcionará a Teerão, sabendo que o Acordo Nuclear está agora quase morto, a oportunidade de reformar o “Crescente Xiita” (Irão-Iraque-Síria-Hezbollah no Líbano).
Também, se outros estados árabes, especialmente a Arábia Saudita, não formularem uma posição pró-Palestina (isto não significa necessariamente apoio ao Hamas), o Irão poderá apresentar-se como o único defensor dos palestinianos à custa de outros estados árabes.
O especialista indica que para o Irão, a nova guerra emergente em Israel/Palestina é uma situação em que todos ganham.
Outro ator global que não deve ser esquecido é a Rússia, indica o especialista. A nova guerra no Médio Oriente desestabilizaria a rede de aliados dos EUA e abriria espaço para uma maior influência iraniana. Além disso, desviaria a atenção e os recursos da Ucrânia. Um potencial aumento dos preços do petróleo, que se está a tornar cada vez mais provável devido ao conflito, também apoiaria a já esgotada reserva de guerra do Kremlin. Além disso, a guerra (e a forma de responder às baixas civis em Gaza) poderá gerar uma rutura na aliança ocidental, que parecia unida em relação à guerra na Ucrânia.
Ali Bilgic conclui que localmente, o cerco a Gaza conduzirá a um desastre humanitário, a menos que os lados em conflito cheguem a acordo sobre um plano de ação de ajuda humanitária através dos canais diplomáticos estatais, como a Turquia e o Egipto conversando com ambos os lados.