Dentro dos desafios e problemáticas que as sociedades ocidentais enfrentam na atualidade, o envelhecimento populacional assume uma cada vez maior premência, dadas as suas implicações coletivas e multidimensionais, como é o caso, do mercado laboral, da proteção social, das estruturas familiares e dos laços intergeracionais.
Como apontam as Nações Unidas, o número de pessoas, com 60 anos ou mais, deve duplicar até 2050 e mais do que triplicar até 2100, passando de 962 milhões em 2017 para 2,1 mil milhões em 2050 e 3,1 mil milhões em 2100. Se o envelhecimento populacional é um fenómeno impactante, na Europa assume maiores proporções, até porque, hoje em dia, o velho continente tem a maior percentagem da população com 60 anos ou mais (25%).
No quadro do inverno demográfico mundial e europeu, a sociedade portuguesa é uma das mais afetadas, apontando mesmo o Instituto Nacional de Estatística (INE) que quase metade da população portuguesa terá mais de 65 anos dentro de meio século. Este cenário de envelhecimento da população que reside no território nacional, também é visível no seio das comunidades lusas, em particular, nos países com maior e mais antiga tradição de emigração portuguesa.
Segundo o estudo sociológico, A emigração portuguesa no século XXI, a percentagem dos idosos entre os emigrantes aumentou, por exemplo, no Canadá “11 pontos percentuais, passando de 17% para 28%, entre 2001 e 2011, e nos EUA aumentou sete pontos percentuais, de 16% para 23%. O crescimento elevado da percentagem dos seniores é ainda observável entre os emigrantes portugueses em França, o destino europeu mais antigo do fluxo migratório nacional. Essa percentagem duplicou, passando de 8% para 16% entre 2002 e 2011”.
É neste contexto de populações nacionais emigradas cada mais envelhecidas, que ganha especial relevância o projeto que está a ser dinamizado na comunidade portuguesa em Toronto, onde vive a maioria dos mais de 500 mil compatriotas e lusodescendentes presentes no Canadá. Designadamente, a construção a breve prazo de um centro, o Magellan Community Centre, orçado em vários milhões de dólares, capaz de acolher mais de 200 seniores, especialmente direcionado para a comunidade lusa.
Este projeto, há muito ambicionado pelos emigrantes portugueses na maior cidade canadiana, está a ser dinamizado pela Magellen Community Charities (Instituição de Caridade Comunitária Magalhães). Uma organização sem fins lucrativos, em homenagem ao navegador português, que através da colaboração do poder político e da solidariedade da comunidade luso-canadiana, está a contruir um lar culturalmente específico que irá dispor de profissionais de saúde que falem português. E dinamizará atividades cultural e espiritualmente em ambiente cultural sensível, e promoverá programas sociais e recreativos em português e alimentação que incluirá pratos tradicionais.
Numa época de galopante envelhecimento da população, a construção de uma “casa” para os mais velhos da comunidade luso-canadiana, demonstra desde logo que o espírito de solidariedade e entreajuda ainda é uma das principais marcas da diáspora, em particular, da comunidade portuguesa em Toronto.
Tendo sido lançada a primeira pedra da obra emblemática, no passado dia 16 de setembro, uma cerimónia simbólica que contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no âmbito de uma visita oficial do Chefe de Estado às comunidades portuguesas no Canadá, coincidente com as celebrações dos 70 anos da chegada dos primeiros emigrantes lusos ao segundo maior país em extensão territorial. A angariação de fundos no seio da comunidade luso-canadiana para que este “barco chegue a bom porto”, é uma das missões insistentes dos diretores da Magellen Community Charities, que com mais ou menos dificuldades, têm conseguido chegar ao âmago dos empresários, dirigentes associativos e milhares de emigrantes portugueses em Toronto.
A presença simbólica e marcante do mais alto magistrado da Nação na cerimónia de lançamento da primeira pedra da obra, não deixa de ser o reconhecimento da mais-valia indubitável do empreendimento para o futuro da comunidade. Assim como um compromisso de apoio do estado português a um projeto representativo, e seguramente inspirador no caminho que deve ser prosseguido por outras comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo.
Como salientou o comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários portugueses em Toronto, e presidente da Direção do Magellan Community Centre, a participação do Presidente da República no lançamento da primeira pedra da obra, permitiu ao mais alto representante da pátria de origem ficar “com uma perceção daquilo que é a comunidade portuguesa neste país que nos acolhe desde há 70 anos. No fim de contas, talvez com esta visita o Presidente Marcelo e toda a comitiva ajudem a mostrar ao resto do mundo onde há portugueses, quem somos nós aqui no Canadá”.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor