O tratamento médico do sono pode reduzir a automutilação em jovens com ansiedade e depressão. A conclusão é de um estudo observacional realizado pelo Instituto Karolinska, na Suécia, e já publicado no The Journal of Child Psychology and Psychiatry.
Os investigadores verificaram que o risco de autoagressão aumentou nos meses anteriores à prescrição de melatonina e diminuiu depois da toma do medicamento, especialmente em meninas.
A melatonina é um hormônio que controla o ciclo sono-vigília e é o medicamento mais prescrito para distúrbios do sono em crianças e adolescentes, na Suécia. O uso de melatonina aumentou drasticamente nos últimos anos e está disponível sem receita na Suécia desde 2020.
O estudo identificou mais de 25.500 crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos que na Suécia receberam melatonina. Mais de 87% tinham pelo menos um transtorno psiquiátrico, principalmente transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtornos de ansiedade, depressão ou transtorno do espectro autista. A automutilação foi cerca de cinco vezes mais comum em meninas do que em meninos.
Os investigadores estimaram os riscos de automutilação no mesmo indivíduo com ou sem medicação, comparando o risco no último mês sem medicação com os doze meses após o início do tratamento com melatonina. Assim, permitiu levar em consideração fatores de fundo que podem afetar as associações, como genética, gravidade do distúrbio do sono ou distúrbios psiquiátricos.
O risco de autoagressão aumentou pouco antes de a melatonina ser prescrita e diminuiu cerca de metade nos meses seguintes ao início do tratamento. A redução do risco foi particularmente evidente entre meninas adolescentes com depressão e/ou transtornos de ansiedade.
“Atualmente, existe uma crise de saúde mental juvenil e o risco de automutilação e suicídio é alto”, referiu Sarah Bergen, e acrescentou: “As nossas descobertas apoiam a hipótese de que as intervenções no sono podem reduzir a automutilação nessa população, especialmente em meninas”.
Mas os investigadores lembram que se tratou de um estudo observacional, e por isso não pode ser estabelecida uma relação causal entre a melatonina e as taxas reduzidas de automutilação. No entanto, os investigadores para verificar se o uso de outros medicamentos pode ter influenciado as descobertas, realizaram análises que excluíram utilizadores de antidepressivos. Os resultados foram semelhantes.
“Isso sugere que a melatonina pode ser responsável pelas taxas reduzidas de automutilação, mas não podemos descartar que o uso de outros medicamentos psiquiátricos ou psicoterapia possa ter influenciado as descobertas”, esclareceu Marica Leone, primeira autora do estudo.